Mercado projeta redução mais modesta na Selic com postura mais conservadora do Copom
O Copom, Comitê de Política Monetária do Banco Central, está reunido hoje para decidir sobre a taxa básica de juros, que tem sido reduzida em 0,50 ponto percentual desde agosto de 2023. A expectativa no mercado é de que o BC reduza o ritmo dos cortes, diminuindo a Selic em 0,25 ponto percentual, mas há divergências de opinião. O contexto internacional mais instável e as preocupações com as contas públicas estão influenciando a postura do comitê.
Alguns economistas sugerem que o BC adote uma abordagem mais “conservadora”, reduzindo menos a taxa de juros. Relatórios de instituições como BTG Pactual, Itaú, XP, Bank of America (BofA) e Goldman Sachs, assim como análises de economistas, apontam para essa possibilidade.
O cenário externo “delicado” também está influenciando as perspectivas para a decisão do Copom. Os economistas destacam a guerra na Faixa de Gaza e a inflação nos Estados Unidos como fatores relevantes. Por um lado, o conflito no Oriente Médio pode pressionar os preços das commodities. Por outro lado, a perspectiva de uma inflação mais alta nos EUA indica que o país provavelmente manterá as taxas de juros elevadas por mais tempo – o Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos) pode adiar cortes nas taxas de juros até setembro.
Devem pesar sobre a postura do Banco Central a falta de visibilidade com relação ao cenário para a inflação, diante da incerteza com a política monetária nos EUA, e a piora da percepção do fiscal no Brasil aliada à resiliência dos dados de mercado de trabalho e crédito locais
- Victor Beyruti, economista da Guide Investimentos
O cenário em abril acabou estressando muito com o conflito entre Israel e Irã, a inflação mais resistente acarretando esses juros mais resistentes também nos Estados Unidos e no Brasil um pouco de ruído fiscal. Quando há esses três fatores, a expectativa acaba piorando em relação ao ritmo dos cortes, embora a taxa de juros brasileira ainda tenda a seguir caindo.
- Cristian Pelizza, economista-chefe da Nippur Finance
Campos Neto, presidente do Banco Central, tem manifestado preocupações com as incertezas globais desde março, especialmente em relação aos reajustes de preços ao redor do mundo. Como resultado, ele retirou o “forward guidance” que indicava um corte de 0,5 ponto percentual na taxa de juros para a reunião de maio. Em um evento no final de abril, ele mencionou a necessidade de compreender a dinâmica deflacionária e de onde virá a desinflação no futuro. Embora os números de inflação tenham sido ligeiramente melhores do que o esperado, ele destacou a importância de observar a tendência de convergência para a meta.
A ata do Copom em março já apontava para cortes menores na taxa de juros, refletindo essa preocupação com as incertezas globais e a necessidade de uma abordagem mais conservadora por parte do Banco Central.
A ata do Copom em março já sinalizava uma tendência de cortes menores na taxa de juros. Durante a análise da conjuntura, o Comitê destacou que o ambiente externo continuava volátil. Em suas considerações, alguns membros argumentaram que, caso a incerteza persistisse no futuro, um ritmo mais moderado de flexibilização monetária poderia ser mais apropriado, independentemente da taxa final desejada.
O mercado externo tem sido um fator crucial para as deliberações do Copom. De acordo com João Piccioni, gestor de fundos da Empiricus Gestão, o Banco Central parece estar “relativamente confortável” com a atual diferença de juros entre o Brasil e os Estados Unidos, sem a capacidade de ir além, caso o processo de desinflação não se concretize no cenário internacional.
As notícias desde a última reunião do Copom vieram mais preocupantes para a perspectiva da inflação, tendo em vista a taxa de câmbio mais depreciada, elevação dos preços das commodities e indicadores do mercado de trabalho mais fortes do que esperado. Então, o conjunto dessas três informações, com também um cenário de maior volatilidade no contexto internacional, devem fazer com que o Copom seja mais cauteloso e reduza o ritmo de cortes.
- Ricardo Faria, sócio da Legend
O Federal Reserve (Fed) deve começar a reduzir as taxas de juros somente em setembro, conforme indicado pelo presidente Jerome Powell durante o Washington Forum sobre a economia do Canadá, em abril. A economia dos Estados Unidos mostra resiliência, o que deve manter as taxas elevadas por mais tempo. O Fed tem adotado uma postura de espera, observando de perto o comportamento da inflação. Em fevereiro, a inflação anual nos EUA atingiu 0,4%, um aumento de 0,1 ponto percentual em relação ao mês anterior.
Os Estados Unidos foram um dos últimos países a aumentar as taxas de juros após a pandemia. Esse movimento resultou em um rápido aumento nos preços e trouxe desafios no controle da inflação. Na semana passada, o Federal Reserve manteve as taxas de juros dentro do intervalo previamente estabelecido.
A gente teve, em algum momento, o mercado achando que os Estados Unidos iam começar a cortar os juros em março, se não me engano, chegou a 85% de probabilidade de ser março. Eu, até na época, dizia que não enxergava isso nos dados. Agora, a gente foi para uma coisa que, se você olhar o mercado de opções, que é onde eu gosto mais de olhar, está dizendo que é dezembro.
- Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, em evento da Legend Capital, em abril.
Juros mais elevados nos EUA significam um dólar mais forte, que acaba dificultando o processo de desinflação nos países emergentes. Por outro lado, fortalece nossa balança comercial e gera algum fôlego para o equilíbrio do crescimento. Nesses momentos, o BC tende a se manter na retaguarda, diluindo os movimentos de política monetária e dando um pouco mais de tempo para tomadas de decisão mais assertivas. A manutenção dos juros altos lá fora deve, portanto, gerar movimentos mais sutis nas taxas por aqui.
- João Piccioni, gestor de fundos da Empiricus Gestão
O canal direto é sobre o câmbio e seus efeitos na deterioração das expectativas de inflação. O BC já vinha sinalizando incômodo pelas expectativas de inflação estarem apenas parcialmente ancoradas e o fato é que voltaram a se deteriorar, mesmo que moderadamente.
- Daniel Cunha, estrategista-chefe da BGC Liquidez