Por causa do acordo Mercosul-União Europeia, Brasil organiza campanha e busca apoio entre países europeus
Com o objetivo de garantir a ratificação do acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia ainda em 2025, o governo brasileiro está mobilizando uma série de ações diplomáticas e comunicacionais para conter críticas e fortalecer sua imagem no cenário europeu. Entre as prioridades está uma campanha de esclarecimento voltada à opinião pública europeia, especialmente em relação à atuação ambiental do agronegócio nacional.
Reação a críticas ambientais
A estratégia brasileira inclui a defesa da reputação do setor agropecuário, que enfrenta resistência em alguns países europeus sob alegações de desrespeito a normas ambientais. Segundo o embaixador do Brasil junto à União Europeia, Pedro Miguel da Costa e Silva, o trabalho será contínuo para apresentar dados, esclarecer processos produtivos e demonstrar o cumprimento de regras internacionais.
“Caso contrário, não estaríamos na posição de maior fornecedor de produtos agropecuários à Europa”, pontuou o diplomata, destacando a importância de reforçar a imagem do país como parceiro confiável e sustentável.
Diplomacia em campo e articulações estratégicas
Na última semana de abril, representantes da ApexBrasil, do Itamaraty e do Ministério da Agricultura cumpriram agendas em países europeus considerados estratégicos para o desfecho do acordo. A missão passou por Portugal, aliado histórico e entusiasta da parceria; pela Polônia, que tem se posicionado contra; e pela Bélgica, país-chave por sediar as instituições da União Europeia.
Durante as negociações, os diplomatas brasileiros têm recorrido a ferramentas disponibilizadas pela própria UE para simular os possíveis votos no Conselho Europeu, dado o caráter instável do processo. A votação, prevista para setembro, exigirá apoio de 55% dos países-membros, representando no mínimo 65% da população do bloco.
Acordo sob influência de fatores externos
O cenário internacional, marcado pela recente elevação de tarifas promovida pelos Estados Unidos sob gestão de Donald Trump, é visto como um fator que pode favorecer a conclusão do acordo Mercosul-UE. Na avaliação de autoridades brasileiras, a medida norte-americana reforça o valor de parcerias comerciais alternativas para os europeus.
Ainda assim, riscos permanecem. A votação pode coincidir com a temporada de queimadas no Brasil e os preparativos para a COP30, eventos que tendem a reacender críticas ambientais. Como o texto do acordo inclui compromissos com sustentabilidade e preservação ambiental, qualquer incidente pode afetar negativamente sua tramitação.
Expectativa e engajamento político
O secretário de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura, Luís Rua, apontou que o momento atual é mais propício do que há seis meses, mas alertou que avanços dependem de ações concretas. “Sem resolvermos a questão do desmatamento, nossa argumentação perde força”, reconheceu.
Já o presidente da ApexBrasil, Jorge Viana, retornou otimista após a missão europeia e prevê se reunir com o presidente Lula para apresentar os resultados. Para ele, o engajamento direto do chefe do Executivo pode ser determinante. Viana ainda ressaltou o papel estratégico do acordo para a Europa em um mundo polarizado entre China e EUA. “Diante do tarifaço de Trump, reforçar alianças comerciais pode ser o caminho mais viável para os europeus”, disse.
Conclusão
Após décadas de negociações, o acordo entre Mercosul e União Europeia entra em sua fase decisiva. O Brasil, como maior economia do bloco sul-americano, assume protagonismo na reta final do processo, buscando não apenas apoio político, mas também reconhecimento da responsabilidade ambiental do país. Com o texto em processo de revisão jurídica e tradução para os idiomas da UE, as próximas semanas serão cruciais para definir se o maior pacto comercial já firmado por ambos os blocos se tornará realidade.