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São Paulo e Rio de Janeiro, dois carnavais que contrastam

Uma cumpre o protocolo para agradar os jurados enquanto a outra faz carnaval com engajamento político e que cresce assustadoramente na pista.

Depois de assistir nos sambódromos do Anhembi e da Sapucaí aos desfiles das escolas de samba do grupo especial, vejo que algumas comparações são inevitáveis. Sempre considerei que as realidades das duas cidades interferiam no modo de fazer carnaval e por isso tentava analisar os espetáculos sem comparar e sem valorizar aspectos de um em detrimento do outro.

Contudo, o desenvolvimento do carnaval paulistano, nas ruas e na grandiosidade dos desfiles, veio acompanhado de mudanças estruturais cuja consequência mais imediata foi um crescente investimento tanto do poder público quanto da iniciativa privada, inclusive com captação de recursos pela Lei Rouanet.

Por outro lado, os desfiles do Rio de Janeiro atravessam uma crise sem precedentes, já que a prefeitura, comandada por um bispo neopentecostal, não repassou nenhuma verba às escolas de samba, que foram obrigadas a se virar e usar ainda mais a criatividade para construir seus enredos.

Em São Paulo, a gestão de Bruno Covas, já dando seus primeiros passos para uma possível reeleição, investiu muitos milhões na festa e promoveu uma reaproximação entre a prefeitura e as agremiações. Tendo Alê Youssef, figura famosa no carnaval de rua, como secretário de Cultura, a cidade tornou-se o destino mais procurado na folia de 2020.

Porém, o que se viu no Anhembi foi muito diferente do que se previa. Mesmo com a força da grana que ergue e destrói coisas belas, como diria Caetano Veloso, nada de novo nos desfiles. O espetáculo de São Paulo não é pensado para o público. Por força dos investimentos, as escolas preferiram os chamados enredos “chapa branca”, ou seja, aqueles que não contestam, não criticam e nem ficam pra história, como os que homenageiam cidades, estados ou países.

As escolas de samba de São Paulo, salvo raríssimas exceções, apresentam-se e concebem seus desfiles para os jurados, que se dedicam a fiscalizar se os itens das pastas que explicam cada quesito foram executados. Portanto, basta cumprir o protocolo. Nenhuma escola quer se arriscar, afinal, é melhor fazer o trivial certinho do que se colocar em perigo só pra conquistar o público.

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