Paes critica mudanças nos voos do Santos Dumont, e Anac reage às declarações
O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, entrou em rota de colisão com a Agência Nacional de Aviação Civil ao criticar as mudanças nas regras de operação do Aeroporto Santos Dumont. As declarações reacenderam o debate sobre o papel do terminal na malha aérea nacional e sobre os impactos econômicos e urbanos das restrições impostas aos voos que partem do aeroporto localizado no coração da capital fluminense.
Paes classificou as alterações como prejudiciais ao Rio, argumentando que a redução e a limitação de rotas no Santos Dumont afetam diretamente o turismo, os negócios e a competitividade da cidade. Na avaliação do prefeito, o aeroporto sempre foi um ativo estratégico para o Rio de Janeiro, especialmente por sua proximidade com o centro financeiro e com áreas de grande circulação de executivos e visitantes. Para ele, as novas regras enfraquecem esse papel e favorecem uma redistribuição de voos que não atende aos interesses da cidade.
O discurso do prefeito também carrega um componente político e simbólico. Paes sustenta que o Rio vem perdendo espaço em decisões estratégicas nacionais e que as mudanças no Santos Dumont são mais um exemplo de escolhas que impactam negativamente a economia local. Segundo essa leitura, a limitação das operações reduz a atratividade da cidade como hub de negócios e compromete setores como hotelaria, eventos e serviços.
A Anac, por sua vez, reagiu às críticas e rebateu o prefeito, defendendo a legitimidade técnica das decisões. A agência afirma que as mudanças fazem parte de um esforço para reequilibrar o sistema aeroportuário da região, especialmente na relação entre o Santos Dumont e o Aeroporto Internacional do Galeão. O objetivo, segundo o órgão regulador, é evitar a concentração excessiva de voos em um terminal com limitações operacionais e incentivar o uso mais eficiente da infraestrutura disponível.
Na visão da Anac, o Santos Dumont tem características específicas que exigem controle rigoroso de capacidade, tanto por questões de segurança quanto por limitações físicas e ambientais. A agência sustenta que a ampliação irrestrita de voos no terminal urbano comprometeria a qualidade do serviço, aumentaria atrasos e poderia gerar riscos operacionais. Por isso, as regras buscam ordenar a oferta, não penalizar uma cidade ou favorecer outra.
O embate expõe uma divergência clássica entre interesses locais e planejamento regulatório nacional. Enquanto a prefeitura do Rio enfatiza os efeitos imediatos na economia da cidade e na vida cotidiana de moradores e visitantes, a Anac se apoia em critérios técnicos e na necessidade de uma visão sistêmica da aviação brasileira. No centro da disputa está o equilíbrio entre conveniência, eficiência econômica e segurança operacional.
O debate também envolve o futuro do Galeão, aeroporto que enfrenta dificuldades para recuperar volume de passageiros. Para a agência, direcionar parte dos voos para o terminal internacional é fundamental para garantir sua viabilidade e aproveitar melhor sua capacidade. Já para Paes, a solução não deveria passar por enfraquecer o Santos Dumont, mas por políticas mais amplas de estímulo e integração do sistema aeroportuário.
Nos bastidores, o tema mobiliza companhias aéreas, setor de turismo e lideranças políticas. Empresas avaliam os impactos das restrições em suas malhas e custos operacionais, enquanto representantes do trade turístico acompanham com preocupação possíveis efeitos na conectividade do Rio. O tema tende a gerar novos capítulos, inclusive no campo jurídico e institucional, caso o impasse se prolongue.
A controvérsia deixa claro que o debate sobre os voos no Santos Dumont vai além de uma questão técnica. Trata-se de uma disputa sobre modelo de desenvolvimento, prioridades regionais e o papel das agências reguladoras em decisões que afetam diretamente grandes centros urbanos. Com posições cada vez mais públicas e firmes, Paes e Anac transformam o tema em mais um ponto sensível na relação entre poder local e regulação federal.

