Líder do governo alerta que PL Antifacção só avança se sair do terreno eleitoral
O líder do governo no Senado, Jaques Wagner, afirmou que a aprovação do PL Antifacção depende de um fator decisivo: a proposta deve deixar de ser tratada como ferramenta de disputa eleitoral. Segundo ele, o projeto se torna viável apenas se os parlamentares pararem de usá-lo como “elemento de campanha”.
Sem acordo definido
Wagner reconheceu que atualmente não existe um consenso claro entre governo e Câmara para um texto definitivo. Ele criticou as versões alternativas que surgiram na tramitação e disse que prefere a proposta original enviada pelo Executivo. Para ele, algumas das emendas apresentadas complicam mais do que ajudam, porque transformam o PL em peça de confronto político.
Ele deixou claro que sua participação direta nas negociações será condicionada a um ambiente mais maduro: “Até porque ele é uma verdadeira metamorfose ambulante. Na minha opinião, o melhor texto sairá na hora que as pessoas, nós da classe política, não quisermos usar isso como elemento de disputa eleitoral.”
Estratégia para blindar o projeto
Para Wagner, o ideal é retomar o texto inicial do governo — mais equilibrado, segundo ele — e deixá-lo exatamente como instrumento de segurança pública, não como arma eleitoral. Ele defendeu a retirada de trechos mais polêmicos que equiparam facções a organizações terroristas ou que alteram excessivamente as atribuições da Polícia Federal.
Ele também afirmou ter programado reuniões com lideranças para consolidar um entendimento mais técnico e menos combativo — envolvendo a ministra das Relações Institucionais e líderes da Câmara para buscar apoio a uma versão que possa ter força suficiente para ser aprovada com respaldo.
Críticas ao viés político
Wagner criticou o comportamento de algumas correntes partidárias e governistas, dizendo que a política de segurança pública não deve funcionar como “bandeira de campanha”. Para ele, legitimar o PL com viés eleitoral compromete sua eficácia e pode afastar apoiadores técnicos, que vêem no combate a facções algo sistêmico, não apenas simbólico.
Além disso, ele reforça que, se a proposta for aprovada apenas por apelo eleitoral, corre o risco de virar legislação frágil, sujeita a retrocessos ou disputas judiciais no futuro.
Desafios na Câmara
Apesar da declaração de Wagner, a tramitação do PL não é simples. O presidente da Câmara, Hugo Motta, confirmou que pretende pautar a proposta, mas ressalta a necessidade de ajustes e consenso. Há forte pressão por parte de governadores, parlamentares de segurança e líderes estaduais para que o texto seja bem debatido, para evitar consequências inesperadas.
Governadores de oposição, por exemplo, pediram prazo maior para discutir o projeto, argumentando que a urgência eleva riscos de falhas técnicas ou de aplicação na prática.
Conclusão
A declaração de Jaques Wagner escancara uma tensão central: aprovar a lei só por endurecimento ou conseguir fazê-lo por convencimento real. Ele aposta na segunda via e quer que o PL Antifacção seja avalizado com legitimidade, não apenas como peça de disputa eleitoral. Se vencer esse desafio, o governo poderá sair com uma grande vitória institucional — não apenas propagandística.

