Banco Central alerta para piora em indicador de crédito, mas assegura estabilidade do sistema financeiro brasileiro
O Banco Central divulgou um relatório detalhado sobre a situação do crédito no país, apontando sinais de deterioração em alguns indicadores de concessão e qualidade das carteiras, especialmente no segmento de pessoas físicas e pequenas empresas. Apesar dessa piora pontual, a instituição enfatizou que o sistema financeiro nacional permanece sólido, capitalizado e com liquidez suficiente para enfrentar cenários adversos.
De acordo com a autoridade monetária, a elevação da inadimplência, observada desde o início do ano, tem relação direta com o encarecimento do crédito, o endividamento das famílias e o ambiente econômico ainda em ajuste. O relatório mostra que, embora o volume total de empréstimos tenha crescido de forma moderada, houve aumento na taxa de atraso acima de 90 dias em linhas como o cartão de crédito rotativo e o crédito pessoal não consignado.
O BC destacou que o comportamento do mercado de crédito reflete o ciclo de política monetária ainda restritivo, com taxas de juros em patamar elevado. Mesmo com a trajetória gradual de queda da Selic, os efeitos sobre o custo do crédito demoram a ser percebidos pelos consumidores e empresas, o que explica a lentidão na recuperação da demanda por financiamento.
O documento ressalta, no entanto, que os bancos mantêm índices de capital e provisões acima dos níveis exigidos internacionalmente, o que garante resiliência diante de choques. A instituição também observou que o sistema apresenta diversificação nas carteiras e prudência nas concessões, o que ajuda a conter riscos sistêmicos.
O Banco Central avaliou ainda que, no setor corporativo, as grandes empresas têm conseguido manter um bom acesso ao crédito, inclusive por meio do mercado de capitais, enquanto as micro e pequenas empresas enfrentam mais dificuldades. Essa disparidade reforça o desafio de ampliar programas de garantia e instrumentos de mitigação de risco para fomentar o crédito produtivo.
Entre as medidas em estudo, o BC citou o avanço da agenda de modernização regulatória, que inclui aprimoramentos no Open Finance e no Sistema de Garantias de Crédito, buscando aumentar a competitividade e reduzir os custos financeiros. A expectativa é que essas iniciativas permitam uma melhor alocação de recursos e mais transparência nas operações.
A autoridade monetária também analisou o papel dos bancos digitais e fintechs, que continuam expandindo sua presença no mercado, especialmente em nichos de crédito pessoal e consumo. O relatório aponta, porém, que essas instituições precisam fortalecer seus mecanismos de governança e gestão de risco, para evitar vulnerabilidades no setor.
O BC chamou atenção para a importância de políticas de educação financeira e renegociação de dívidas, principalmente para famílias mais endividadas. O relatório reconhece que programas como o Desenrola Brasil tiveram impacto positivo, mas alerta que a retomada do crédito saudável depende de disciplina fiscal e estabilidade macroeconômica.
Apesar dos desafios, o Banco Central reiterou que o sistema financeiro brasileiro é um dos mais sólidos do mundo, com supervisão rigorosa e mecanismos de proteção bem estabelecidos. O país possui alto nível de reservas internacionais e instrumentos eficazes de controle de liquidez, fatores que garantem tranquilidade mesmo em períodos de incerteza global.
O documento conclui que, embora o cenário exija atenção e prudência, não há risco iminente de crise bancária. O BC reforçou o compromisso de continuar monitorando de perto o comportamento do crédito e de atuar preventivamente sempre que identificar sinais de desequilíbrio. Segundo a instituição, a combinação de solidez estrutural e vigilância regulatória segue sendo o principal pilar da estabilidade do sistema financeiro nacional.

