Após operação policial de grande repercussão, Quaest aponta estagnação na recuperação da popularidade do governo Lula
O diretor do instituto de pesquisas Quaest, Felipe Nunes, afirmou que a recente operação policial de grande visibilidade nacional interrompeu a tendência de melhora na avaliação do governo Lula observada nas últimas semanas. Segundo o levantamento mais recente da instituição, a curva de aprovação do governo, que vinha apresentando sinais de recuperação gradual desde o início do segundo semestre, voltou a se estabilizar, refletindo o impacto político dos acontecimentos recentes e a sensibilidade do eleitorado a temas ligados à segurança e à ética pública.
De acordo com o diretor da Quaest, a operação, que envolveu figuras conhecidas do cenário político e expôs divergências dentro da base aliada, teve efeito direto sobre a percepção de parte dos entrevistados quanto à condução do governo federal. O episódio reacendeu debates sobre transparência, combate ao crime e gestão institucional, temas que costumam influenciar rapidamente a opinião pública.
O levantamento mostrou que, embora os índices de aprovação e desaprovação permaneçam próximos, o governo perdeu o ritmo de crescimento que havia registrado desde julho. A avaliação positiva, que havia subido dois pontos percentuais em outubro, agora se mantém estável, enquanto a desaprovação voltou a subir dentro da margem de erro. O cenário indica uma pausa no processo de recuperação política que vinha sendo apontado por analistas desde o meio do ano.
Felipe Nunes explicou que a estagnação da popularidade não representa necessariamente uma crise, mas sinaliza uma mudança de tendência. Segundo ele, a população demonstra preocupação crescente com temas relacionados à segurança pública, integridade das instituições e eficiência do governo. Esses fatores, aliados à cobertura intensa de operações policiais, têm potencial de interferir diretamente na percepção sobre a estabilidade e a credibilidade da administração federal.
O instituto Quaest também identificou que o impacto do episódio não foi homogêneo entre as regiões. No Nordeste, o governo manteve índices de aprovação mais elevados, sustentado por programas sociais e investimentos em infraestrutura. No Sudeste, porém, a operação repercutiu com maior intensidade, levando a uma queda perceptível nas avaliações positivas. Já no Sul e no Centro-Oeste, onde a desaprovação já era mais alta, o cenário se manteve praticamente inalterado.
Outro dado relevante revelado pela pesquisa é o aumento do número de eleitores que dizem “não confiar” nas ações do governo, mesmo entre aqueles que reconhecem avanços em áreas específicas, como economia e educação. Especialistas consultados avaliam que isso reflete um sentimento de desconfiança generalizado com a classe política, que tende a ser reavivado sempre que operações de grande porte ocupam o noticiário.
A equipe econômica do governo também acompanha de perto os desdobramentos desses dados. A percepção pública sobre a estabilidade política influencia diretamente a confiança de investidores e empresários, especialmente em um momento em que o país tenta consolidar sinais de recuperação. Segundo fontes do Palácio do Planalto, a meta agora é reconquistar o eleitorado indeciso com ações concretas e uma comunicação mais clara sobre resultados e metas.
Felipe Nunes destacou ainda que o impacto de operações desse tipo costuma ser temporário, mas pode se prolongar dependendo da forma como o governo reage. Para ele, uma resposta institucional firme e transparente tende a limitar danos, enquanto posturas defensivas ou ambíguas ampliam o desgaste. O diretor lembrou que a opinião pública é altamente sensível à coerência: “as pessoas não esperam perfeição, mas querem ver firmeza e responsabilidade diante de crises”, afirmou.
Nos bastidores, líderes governistas reconhecem que o episódio surgiu em um momento delicado, no qual o governo buscava consolidar sua narrativa de estabilidade e eficiência. A retomada de programas sociais, os avanços em infraestrutura e a queda da inflação vinham contribuindo para um ambiente mais favorável. No entanto, a operação policial trouxe de volta uma percepção de turbulência que interrompeu o sentimento de recuperação gradual.
Apesar da interrupção da melhora, a Quaest aponta que o núcleo de apoio ao presidente Lula permanece sólido, especialmente entre eleitores de menor renda e em estados do Nordeste. O desafio, segundo analistas, está em reconquistar o eleitorado de centro e os indecisos, que tendem a reagir de forma imediata a episódios de crise institucional.
A pesquisa da Quaest, que ouviu eleitores de todas as regiões do país, sugere que o comportamento da opinião pública nas próximas semanas será determinante para definir se a pausa na recuperação da popularidade será apenas momentânea ou indicará uma nova tendência de estagnação. Enquanto isso, o governo reforça sua estratégia de comunicação e busca reorganizar sua base no Congresso para demonstrar estabilidade política e retomar o ritmo de aprovação que vinha conquistando antes da operação.

