Medidas tarifárias de Trump derrubam exportações aos Estados Unidos em 25%, enquanto China amplia presença e assume parte do mercado afetado
As novas tarifas impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, estão provocando mudanças profundas no comércio internacional e alterando a dinâmica das exportações em direção ao mercado americano. De acordo com dados oficiais divulgados nesta segunda-feira (10), o chamado tarifaço promovido pelo governo resultou em uma queda de aproximadamente 25% nas importações provenientes de vários países, em comparação com o mesmo período do ano anterior.
O objetivo das medidas, segundo a Casa Branca, é proteger a indústria nacional e reduzir a dependência de produtos estrangeiros em setores considerados estratégicos, como aço, tecnologia, automóveis e equipamentos eletrônicos. No entanto, os efeitos colaterais já são visíveis: o aumento dos custos para empresas importadoras e a reorganização das cadeias de suprimentos globais têm provocado deslocamentos no fluxo comercial e incertezas entre parceiros tradicionais dos Estados Unidos.
O pacote de tarifas, parte do plano de “reindustrialização patriótica” defendido por Trump, impôs sobretaxas que variam entre 15% e 60% sobre uma ampla gama de produtos. As medidas atingem especialmente economias emergentes e países asiáticos, com destaque para o Vietnã, Coreia do Sul e México, que viram suas exportações para os EUA despencarem nos últimos meses.
Curiosamente, a China, mesmo sendo o principal alvo político e econômico das tarifas, conseguiu recuperar parte do espaço perdido no mercado americano. A explicação, segundo analistas, está na capacidade das empresas chinesas de redirecionar suas cadeias produtivas, utilizar subsidiárias em países intermediários e oferecer preços mais competitivos, compensando parcialmente o impacto das barreiras comerciais.
Dados preliminares mostram que, embora as exportações diretas chinesas para os Estados Unidos tenham recuado, as vendas de produtos fabricados em regiões como Malásia, Tailândia e Filipinas — com forte presença de capital chinês — aumentaram de forma significativa. O fenômeno, segundo especialistas, representa uma “reconfiguração silenciosa” do comércio asiático, com a China mantendo influência indireta sobre parte das exportações que chegam ao mercado americano.
Nos Estados Unidos, o setor industrial tem reagido de forma ambígua. Algumas empresas domésticas relatam crescimento de produção e contratações, especialmente em indústrias de base e componentes metálicos. No entanto, outras relatam aumento de custos e dificuldade para obter insumos importados, o que tem pressionado margens de lucro e afetado a competitividade de setores que dependem de cadeias globais integradas.
Economistas afirmam que o impacto total do tarifaço ainda está em avaliação, mas reconhecem que a queda de 25% nas exportações aos EUA já representa uma das maiores retrações comerciais da última década. Os efeitos são sentidos em múltiplos setores, desde tecnologia até bens de consumo, e têm potencial para alterar o equilíbrio econômico entre os grandes blocos comerciais.
A política de Trump tem forte apelo político interno, sustentada pelo discurso de fortalecimento do “Made in USA” e de valorização do trabalhador americano. Em pronunciamentos recentes, o presidente afirmou que as tarifas são “um preço justo a se pagar pela independência econômica dos Estados Unidos” e que os recursos arrecadados estão sendo redirecionados para programas de estímulo à produção nacional e para pagamentos diretos à população.
Do ponto de vista internacional, a reação é de cautela. A União Europeia e países asiáticos têm avaliado contramedidas e tentado diversificar seus destinos de exportação, buscando reduzir a dependência do mercado americano. Ao mesmo tempo, cresce o movimento de integração comercial entre economias emergentes, impulsionado pela necessidade de encontrar novos parceiros e mercados alternativos.
Especialistas em comércio global destacam que a China, apesar de prejudicada em alguns segmentos, conseguiu transformar a crise em oportunidade. O governo chinês vem intensificando acordos regionais, fortalecendo a Belt and Road Initiative (Nova Rota da Seda) e incentivando a instalação de indústrias em países aliados, o que lhe permite continuar influenciando o comércio global, mesmo diante das barreiras impostas por Washington.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) e a Organização Mundial do Comércio (OMC) alertaram recentemente que as políticas protecionistas adotadas pelos Estados Unidos podem ter efeitos prolongados sobre o crescimento global. Segundo estimativas, o tarifaço americano pode reduzir em até 0,3 ponto percentual o PIB mundial em 2025, caso as tensões comerciais se mantenham ou se intensifiquem.
Apesar das críticas internacionais, Trump reafirmou que manterá a política tarifária enquanto considerar necessário para “restaurar a soberania econômica americana”. Ele afirmou que os resultados obtidos até agora demonstram o sucesso do plano, citando o aumento da produção doméstica em setores estratégicos e a recuperação de empregos industriais.
Com o comércio global em processo de adaptação, os próximos meses serão decisivos para medir o alcance real do impacto das tarifas e os desdobramentos da política de Washington sobre a economia mundial. Enquanto isso, a China segue mostrando resiliência e habilidade em contornar as barreiras, consolidando-se, mais uma vez, como uma peça central no xadrez comercial global.

