Economia

Brasil mantém segunda colocação global em juros reais e reforça política monetária restritiva

O Brasil continua ocupando a segunda posição no ranking mundial de juros reais, atrás apenas do México, segundo levantamento atualizado por instituições financeiras internacionais. O dado reforça o caráter altamente contracionista da política monetária brasileira, mesmo após o Banco Central manter a taxa Selic em 15% ao ano na mais recente reunião do Comitê de Política Monetária (Copom).

O estudo considera a diferença entre a taxa básica de juros nominal e a inflação projetada para os próximos 12 meses — indicador conhecido como juro real ex-ante. No caso do Brasil, essa diferença está próxima de 7% ao ano, o que significa que os investidores recebem um dos maiores retornos ajustados pela inflação entre todas as economias analisadas.

De acordo com o levantamento, o México lidera o ranking, com um juro real estimado em 7,2%, ligeiramente acima do brasileiro. Logo após o Brasil, aparecem Chile, Colômbia e Indonésia, países que também mantêm taxas de juros elevadas para conter pressões inflacionárias e proteger suas moedas diante das incertezas globais.

Especialistas avaliam que o juro real elevado no Brasil reflete a cautela do Banco Central em não antecipar cortes na Selic, sobretudo diante de riscos fiscais e de inflação persistente em alguns segmentos, como serviços e alimentos. Além disso, a percepção de que o governo pode relaxar metas de resultado primário tem levado o mercado a exigir prêmios mais altos para investir em títulos públicos.

Para economistas, a manutenção da posição brasileira no topo do ranking global tem efeitos ambíguos sobre a economia. Por um lado, ajuda a controlar a inflação e manter a atratividade dos investimentos estrangeiros em renda fixa. Por outro, encarece o crédito, reduz o consumo e limita o ritmo de crescimento econômico.

O relatório aponta ainda que a persistência de juros reais elevados reflete a falta de confiança plena dos investidores na condução da política fiscal. Enquanto o Banco Central atua de forma conservadora para conter a inflação, o mercado monitora com preocupação os gastos públicos e os debates em torno de novas flexibilizações do arcabouço fiscal.

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, tem reiterado que o principal desafio é equilibrar a política monetária com a estabilidade fiscal, enfatizando que reduções sustentáveis na taxa Selic só serão possíveis quando houver clareza sobre o compromisso do governo com o equilíbrio das contas públicas.

O cenário internacional também influencia o comportamento dos juros brasileiros. O aperto monetário prolongado nos Estados Unidos e a valorização do dólar mantêm a pressão sobre moedas emergentes, o que dificulta cortes mais agressivos nos juros domésticos. Além disso, a volatilidade nos preços das commodities e o aumento das tensões geopolíticas contribuem para o ambiente de cautela.

De acordo com analistas, a posição do Brasil entre os países de maior juro real do mundo deve se manter nos próximos meses, a menos que haja uma melhora significativa nos indicadores fiscais e uma convergência mais rápida da inflação para a meta de 3%. Nesse contexto, o mercado passou a projetar reduções graduais na Selic apenas a partir do segundo semestre de 2026.

Enquanto isso, setores produtivos e entidades empresariais seguem pressionando o governo e o Banco Central por medidas que estimulem o crédito e os investimentos. Contudo, a autoridade monetária sinaliza que, sem avanços concretos na responsabilidade fiscal, os cortes de juros podem ser tardios, mantendo o Brasil como um dos países mais caros do mundo para quem precisa financiar o consumo ou expandir negócios.

Assim, o ranking global reforça a posição do Brasil como um caso singular: uma economia emergente com política monetária de país desenvolvido, sustentada por juros reais elevados e pela busca incessante de credibilidade no controle da inflação.

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