Delegações regionais argentinas confrontam políticas de Milei durante conferência climática internacional
Durante a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP), a participação da delegação argentina foi marcada por tensões internas e divergências abertas entre o governo central, liderado por Javier Milei, e representantes de várias províncias argentinas. As diferenças se concentraram principalmente nas posições adotadas pelo presidente em relação às políticas ambientais, transição energética e compromissos climáticos internacionais.
Enquanto Milei mantém uma postura de ceticismo em relação ao multilateralismo ambiental e defende uma abordagem baseada no livre mercado, governadores e representantes provinciais levaram à COP discursos mais alinhados às metas globais de sustentabilidade. As províncias argumentam que a cooperação internacional e o acesso a fundos climáticos são essenciais para enfrentar os efeitos das mudanças climáticas, que afetam diretamente a agricultura, o abastecimento de água e a produção energética em diferentes regiões do país.
As divergências tornaram-se evidentes durante as reuniões paralelas entre delegações sul-americanas. Enquanto o governo central enfatizou que o crescimento econômico deve vir antes das restrições ambientais, representantes de províncias como Mendoza, Santa Fé e Córdoba defenderam que o país não pode se afastar dos compromissos firmados em acordos internacionais. Eles alertaram que o isolamento da Argentina em fóruns climáticos pode gerar impactos negativos sobre o comércio exterior e dificultar o acesso a investimentos sustentáveis.
Fontes presentes nas discussões relatam que a delegação nacional apresentou um discurso concentrado na desregulamentação ambiental e na defesa de atividades extrativistas, especialmente no setor de mineração e exploração de gás natural. Em contrapartida, governadores e secretários locais enfatizaram a importância de políticas de transição energética e de incentivo às fontes renováveis, que já começam a ganhar espaço em regiões como a Patagônia e o norte do país.
As províncias também expressaram preocupação com a redução de recursos federais destinados a programas de adaptação climática e preservação ambiental. Desde o início do governo Milei, cortes orçamentários significativos atingiram projetos voltados à gestão de florestas, proteção de bacias hídricas e monitoramento de desastres naturais. Segundo os representantes locais, a ausência de apoio federal compromete o cumprimento das metas ambientais que a Argentina assumiu em conferências anteriores.
Outro ponto de atrito foi a ausência de coordenação entre o governo nacional e os governos regionais na elaboração das metas climáticas apresentadas na COP. As províncias alegam que não foram consultadas sobre as propostas levadas pelo Ministério do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, o que gerou desconforto político e institucional. Essa falta de diálogo, segundo especialistas, pode enfraquecer a credibilidade do país perante organismos internacionais e parceiros comerciais.
Durante os debates, lideranças regionais destacaram que o impacto das mudanças climáticas já é visível em diversas partes da Argentina. O aumento da frequência de secas, enchentes e incêndios florestais tem provocado prejuízos significativos à produção agropecuária e ameaçado comunidades rurais. As províncias argumentam que negar a gravidade da crise climática é um erro estratégico que pode custar caro à economia nacional e às gerações futuras.
Em contraposição, o governo Milei insiste que o país precisa priorizar a recuperação econômica e que eventuais compromissos ambientais não podem restringir a liberdade de produção ou impor custos adicionais ao setor privado. Essa visão, entretanto, é criticada por analistas e ambientalistas, que consideram que a desarticulação das políticas climáticas enfraquece a posição internacional da Argentina e afasta potenciais investimentos em inovação verde.
As tensões internas na delegação argentina chamaram a atenção de observadores internacionais. Representantes de outros países latino-americanos destacaram que o caso da Argentina evidencia um desafio comum na região: equilibrar políticas econômicas liberais com a necessidade urgente de adaptação às mudanças climáticas. A falta de unidade entre governo central e províncias, segundo analistas, pode limitar a capacidade do país de cumprir compromissos assumidos no Acordo de Paris.
Ao final da conferência, as províncias argentinas reafirmaram sua disposição em manter diálogo com organismos internacionais e buscar recursos para financiar projetos locais de sustentabilidade, independentemente da postura do governo nacional. O episódio reforçou a imagem de um país dividido em sua política ambiental — com um presidente que questiona o papel das conferências globais e lideranças regionais que defendem uma atuação mais integrada e responsável diante da crise climática.

