Lula mira impacto direto no dia a dia ao ampliar isenção do Imposto de Renda
A ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda para trabalhadores de menor renda foi comemorada pelo governo como um passo importante na tentativa de recuperar o poder de compra da população. Para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o efeito sentido no bolso pode ter mais peso na percepção pública do que investimentos em áreas que, embora essenciais, apresentam resultados mais lentos, como a segurança pública.
Segundo interlocutores do governo, a decisão tem um objetivo claro: chegar ao cotidiano de quem trabalha, especialmente das famílias que enfrentam orçamento apertado com alimentação, transporte, aluguel e energia. Ao ampliar o número de cidadãos que deixam de pagar o Imposto de Renda ou que terão descontos maiores, o governo aposta em uma sensação imediata de alívio financeiro — ainda que pequeno para alguns, mas constante e mensal.
A escolha por medidas com efeito imediato
O Palácio do Planalto tem defendido que, diante da desaceleração econômica internacional e da necessidade de reaquecer setores internos, estimular o consumo é uma estratégia central. O alívio tributário atua diretamente nessa direção: com mais dinheiro livre, famílias podem consumir mais, pagar dívidas atrasadas ou reorganizar o orçamento.
A avaliação é que, quando o trabalhador percebe que seu salário “rende um pouco mais”, isso gera uma percepção de cuidado, presença e atenção do governo. Não é apenas política econômica — é comunicação.
Segurança pública segue como desafio estrutural
Ao mesmo tempo, a segurança pública permanece entre as principais cobranças feitas ao governo federal. O aumento de confrontos em regiões dominadas por facções, operações policiais com repercussão nacional e disputas entre estados e União sobre estratégias de combate à criminalidade continuam gerando desgaste político.
Enquanto a economia permite ações de impacto rápido, a segurança exige prazos longos, acordos institucionais, investimentos em inteligência e integração entre estados — processos que dificilmente resultam em vitórias comunicáveis de imediato.
Essa diferença de ritmo cria um contraste:
- Na economia, o efeito é sentido no mês seguinte.
- Na segurança, os resultados demoram e nem sempre são visíveis.
Cálculo político: dar resposta onde o cidadão sente primeiro
No governo, a leitura é que o cidadão constrói sua avaliação sobre a vida pública a partir de duas referências fundamentais: capacidade de sustento e sensação de segurança. Quando um desses fatores se enfraquece, o outro ganha peso.
A aposta do Planalto é que, neste momento, garantir que o salário seja menos comprimido pode reduzir tensões sociais e gerar maior confiança popular, mesmo que o debate sobre segurança continue intenso.
Próximos movimentos
O governo pretende seguir defendendo mudanças no sistema tributário, incluindo propostas que mexem com rendas mais altas e patrimônios, mas sabe que esses temas enfrentam resistência no Congresso. Já a segurança deve continuar sendo tratada de forma compartilhada entre estados, governo federal e Judiciário — com o risco permanente de disputas políticas que podem atrapalhar avanços.
Por enquanto, a estratégia está clara:
mostrar resultado no bolso antes de tentar convencer no enfrentamento ao crime.
Lula aposta que o cotidiano fala mais alto.
E é ali, na mesa de casa, que o governo espera conquistar um apoio duradouro.

