Enterterimento

Plano Collor provoca mudanças de bastidor em ‘Rainha da Sucata’

A novela Rainha da Sucata, escrita por Silvio de Abreu e exibida inicialmente em abril de 1990 pela TV Globo, teve seu roteiro e o destino de personagens diretamente afetados pelas medidas econômicas do Plano Collor. Menos de duas semanas antes da estreia, o governo de Fernando Collor de Mello anunciou o confisco das poupanças, o que tornou obsoletos vários elementos já gravados da trama.

A proposta original da novela era retratar a ascensão de Maria do Carmo (interpretada por Regina Duarte), vinda de um negócio de sucata e em rápida ascensão econômica, concorrendo com a elite tradicional paulistana. Com o congelamento dos depósitos e a crise financeira, o autor precisou reescrever cerca de 30 capítulos já prontos, adaptando a origem dos recursos da protagonista — por exemplo, justificando que seus lucros estavam investidos em construção civil, e não em contas bancárias tradicionais que estariam bloqueadas.

Além da alteração na origem dos recursos, o tom da novela mudou. O humor ácido e cômico inicial foi reequilibrado com elementos mais dramáticos, para se ajustar ao clima de apreensão econômica e incerteza que se vivia no país. Também houve mudanças de produção: por exemplo, a ausência de chamadas do “próximo capítulo” tornou-se um recurso para manter o fluxo da história sem interrupções — algo que se destacou no momento.

O impacto dessa mudança vai além da ficção. A novela acabou se tornando um retrato simbólico do Brasil em transição — de uma economia instável, com hiperinflação e planos econômicos consecutivos, para a busca por identidade de classe e ascensão social. A repercussão na época foi relevante: segundo relatos, o público notou que algo havia sido “rapidinho mudado” na trama, o que gerou certa tensão sobre o que estava por trás da adaptação.

Hoje, com a reprise da novela confirmada pela emissora a partir de novembro de 2025, esse episódio dos bastidores ganha releitura como parte da história da televisão brasileira — uma junção entre entretenimento e realidade econômica.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *