Com taxa Selic mantida em 15%, mercado aguarda indicações do Copom sobre possível início de cortes a partir de 2026
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central deve manter a taxa Selic em 15% ao ano na reunião desta semana, consolidando um dos períodos mais longos de juros elevados da história recente do país. A decisão, amplamente esperada pelo mercado financeiro, ocorre em meio a um cenário de incertezas fiscais e inflação ainda resistente em alguns segmentos da economia.
Os analistas consideram que a manutenção da Selic reflete a necessidade de preservar a credibilidade da política monetária, diante de pressões sobre os preços administrados e expectativas ainda acima da meta para o próximo ano. O mercado, no entanto, volta suas atenções para o comunicado do Copom, que poderá trazer sinais sobre o início de um ciclo de cortes a partir de 2026, dependendo do comportamento da inflação e da condução da política fiscal.
Desde o último ajuste, realizado há mais de um ano, a taxa básica de juros permanece em patamar considerado restritivo. O objetivo do Banco Central tem sido conter a inflação e ancorar as expectativas, especialmente em um momento em que as contas públicas ainda geram dúvidas sobre o cumprimento das metas fiscais propostas pelo governo federal.
O boletim Focus, divulgado nesta segunda-feira, indica que o mercado espera estabilidade da Selic até o fim de 2025, com o início de um processo gradual de redução apenas no primeiro trimestre de 2026. A mediana das projeções para a inflação de 2025 subiu para 3,7%, enquanto a de 2026 se manteve em 3,3%, dentro do intervalo de tolerância da meta definida pelo Conselho Monetário Nacional.
Economistas avaliam que o ambiente atual ainda não permite uma redução segura dos juros. O nível elevado de incerteza fiscal, somado à volatilidade cambial e à alta nos preços de commodities, pode adiar qualquer tentativa de flexibilização monetária. Além disso, o comportamento recente da inflação de serviços — segmento mais sensível à renda e ao emprego — segue pressionado, o que reforça a postura cautelosa da autoridade monetária.
Outro ponto de atenção é o crescimento do crédito. A manutenção da Selic em 15% limita a expansão do crédito ao consumo e ao investimento, mas o Banco Central considera que reduzir os juros antes do momento adequado poderia comprometer a convergência da inflação à meta, colocando em risco a estabilidade de preços no médio prazo.
Em comunicado recente, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou que o principal desafio atual é garantir que as expectativas permaneçam ancoradas e que a inflação siga trajetória descendente. Ele também ressaltou a importância de um arcabouço fiscal sólido, capaz de dar previsibilidade às políticas públicas e reduzir a pressão sobre os juros.
Para o mercado financeiro, o tom do comunicado que será divulgado após a reunião do Copom será determinante. Caso o texto traga menções a uma possível “mudança de direção” ou sinalize uma revisão da política monetária a médio prazo, os investidores poderão ajustar suas projeções de juros futuros, o que impactaria diretamente o câmbio e o comportamento da bolsa de valores.
O setor produtivo tem pressionado por uma redução gradual da Selic, argumentando que o atual patamar de juros compromete o investimento e a geração de empregos. Por outro lado, economistas mais conservadores defendem prudência, afirmando que cortar juros antes de consolidar o controle da inflação seria um erro estratégico.
Se confirmada a decisão de manutenção, o Brasil seguirá entre os países com maiores taxas reais de juros do mundo. Ainda assim, o Banco Central tem adotado uma postura firme de comunicação, reforçando que as decisões futuras dependerão dos indicadores econômicos e da evolução do cenário fiscal.
A expectativa é que o Copom reafirme seu compromisso com o regime de metas de inflação, mas sem descartar, para o horizonte de 2026, um ambiente mais propício à redução gradual da taxa básica, caso as condições econômicas e fiscais do país apresentem sinais mais consistentes de estabilidade.

