Desde o início da pandemia, gastos do governo com programas sociais ultrapassam R$ 1,5 trilhão e revelam impacto histórico nas contas públicas
Os gastos do governo federal com programas de assistência social desde o início da pandemia da Covid-19 somaram quase R$ 1,5 trilhão, segundo dados oficiais atualizados do Tesouro Nacional e do Ministério da Fazenda. O montante reflete o maior esforço fiscal da história recente do país em políticas voltadas à proteção de famílias vulneráveis, manutenção de renda e estímulo à economia em meio à crise sanitária e social que começou em 2020.
Grande parte desse valor foi destinada a programas emergenciais criados para mitigar os efeitos da pandemia, como o Auxílio Emergencial, o Benefício Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda (BEm) e as transferências diretas a estados e municípios. Com o passar dos anos, o gasto público se reconfigurou, migrando para programas permanentes, como o Bolsa Família, o Auxílio Gás e o Vale Alimentação, que seguem ativos até hoje.
Entre 2020 e 2022, o Auxílio Emergencial respondeu por quase R$ 350 bilhões dos desembolsos totais. O programa, que chegou a atender mais de 68 milhões de brasileiros, foi o principal instrumento de suporte à população em meio às restrições econômicas impostas pela pandemia. Seu impacto social foi profundo, reduzindo temporariamente os índices de pobreza e extrema pobreza, segundo o IBGE.
Já o Bolsa Família, reestruturado em 2023, teve papel central na continuidade das políticas sociais após o fim das medidas emergenciais. Desde então, o programa representa cerca de R$ 170 bilhões por ano, somando mais de R$ 340 bilhões até o momento. A reformulação trouxe novas faixas de benefícios, ampliação do número de famílias atendidas e critérios mais rigorosos de acompanhamento social.
Outro ponto que elevou o total de gastos foi a inclusão de subsídios a combustíveis e energia elétrica, além de transferências para micro e pequenas empresas durante o período mais agudo da crise. Apenas as medidas voltadas a setores produtivos ultrapassaram R$ 200 bilhões, com impacto direto no déficit fiscal acumulado no período.
Mesmo após o fim da emergência sanitária, os programas sociais permaneceram como eixo prioritário da política econômica federal. Nos últimos dois anos, o governo manteve ou ampliou o alcance de diversas iniciativas voltadas ao combate à fome, ao apoio à infância e à promoção da inclusão digital. Essa continuidade elevou as despesas obrigatórias, pressionando o orçamento e ampliando a necessidade de ajustes nas metas fiscais.
Economistas afirmam que, embora o valor represente um volume inédito de gasto social, ele também teve efeito significativo na recuperação econômica. A injeção direta de recursos na base da pirâmide estimulou o consumo, reduziu desigualdades e evitou um colapso mais severo no mercado de trabalho durante o auge da crise.
Por outro lado, o custo fiscal elevado aumentou o desafio da sustentabilidade das contas públicas. O governo vem buscando meios de equilibrar as despesas obrigatórias com a arrecadação, apostando em reformas tributárias e em medidas de ampliação da base de contribuintes para garantir fôlego orçamentário.
O Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social destacou que os programas de transferência de renda continuam sendo “instrumentos essenciais de justiça social e inclusão”. Segundo a pasta, o governo pretende aprimorar o uso de dados do Cadastro Único e de ferramentas digitais para evitar fraudes e tornar os benefícios mais eficientes.
Desde a pandemia, o Brasil consolidou um modelo de rede de proteção social mais abrangente, porém também mais custoso. O debate sobre o futuro dessas políticas deve continuar no centro das discussões econômicas, especialmente diante das metas fiscais mais rígidas e do desafio de conciliar responsabilidade orçamentária com compromisso social.

