Plano internacional quer transformar qualidade do ar em ambientes fechados e criar novo padrão de segurança
Uma comissão global formada por pesquisadores, autoridades sanitárias e especialistas em infraestrutura está desenvolvendo uma estratégia internacional para melhorar a qualidade do ar em locais fechados. A iniciativa surge após a pandemia expor que escolas, escritórios, hospitais, transportes públicos e até residências funcionam, muitas vezes, com ar mal renovado, favorecendo a circulação de vírus, bactérias, mofo e substâncias tóxicas que afetam a saúde.
A proposta é estabelecer normas que orientem países a adotar sistemas mais eficientes de ventilação, filtragem e monitoramento contínuo da qualidade do ar. A ideia é que esses parâmetros se tornem referência global, influenciando leis, projetos arquitetônicos e políticas públicas.
Por que o ar interno virou uma preocupação mundial
Pesquisas recentes mostram que o ar respirado em ambientes fechados pode ser até cinco vezes mais poluído do que o ar externo. Isso ocorre por diversos motivos:
- Ambientes modernos são construídos para economizar energia, evitando troca de ar.
- Ar-condicionado e climatizadores recirculam o mesmo ar por horas.
- Ambientes lotados aumentam a concentração de partículas respiráveis.
- Poeira, produtos de limpeza, tintas e móveis liberam compostos químicos.
Essas condições favorecem a propagação de doenças respiratórias e alergias, além de reduzir o conforto e o bem-estar. Locais como escolas, salas de reunião, transportes públicos e hospitais são considerados pontos críticos.
O objetivo: criar um novo padrão global de ventilação e filtragem
A comissão trabalha em recomendações que deverão incluir:
- Índices mínimos de renovação de ar por hora.
- Uso de filtros capazes de reter partículas ultrafinas.
- Instalação de sensores de CO₂ como indicador da qualidade de ventilação.
- Normas específicas para espaços de alta circulação, como metrôs e aeroportos.
A proposta lembra o movimento que transformou o abastecimento de água potável no século XX: uma mudança estrutural pouco visível, mas fundamental para a saúde pública.
Impacto esperado na saúde e na economia
Melhorar a circulação do ar não é apenas uma questão sanitária. Estudos indicam que:
- Ambientes com ar limpo elevam concentração e produtividade.
- Doenças respiratórias diminuem, aliviando sistemas de saúde.
- Empresas reduzem custos com afastamentos e absenteísmo.
Ou seja, um investimento em ventilação tende a gerar retorno econômico e social em médio prazo.
O que muda para o Brasil
Caso as diretrizes internacionais sejam adotadas, o Brasil terá desafios e oportunidades:
- Muitas escolas públicas têm salas abafadas e sem janelas suficientes.
- Hospitais e postos de saúde exigiriam modernização na filtragem do ar.
- Ônibus urbanos e metros teriam que adotar sistemas de renovação contínua.
- A construção civil teria de adaptar projetos arquitetônicos futuros.
Por outro lado, o país possui indústrias capazes de produzir equipamentos como filtros, sensores e sistemas de ventilação, o que pode gerar empregos e inovação.
Respirar bem deve virar direito básico
Para os especialistas da comissão, garantir ar limpo em ambientes internos precisa ser entendido como parte da saúde pública, assim como higienização das mãos, saneamento e vacinação. A pandemia apenas acelerou essa percepção: o ar que circula dentro de casa, da escola ou do trabalho é tão determinante para a saúde quanto aquele que respiramos nas ruas.
A expectativa é que as primeiras recomendações oficiais do grupo sejam divulgadas até 2026, iniciando uma mudança gradual, porém profunda, na forma como o mundo constrói e ocupa espaços.

