Iphan reconhece prédio histórico no Rio como patrimônio nacional
O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional decidiu tombar o edifício que abrigou o antigo Departamento de Ordem Política e Social, órgão de repressão que atuou principalmente durante a ditadura militar. Localizado no centro do Rio de Janeiro, o prédio passa agora a contar com proteção especial, impedindo que seja demolido ou passe por reformas que descaracterizem sua estrutura original.
A decisão se baseia no entendimento de que o local possui valor histórico e simbólico para o país. Ali funcionou um dos principais centros de vigilância e controle político do período autoritário, tornando-se, ao mesmo tempo, um espaço de dor para perseguidos políticos e um marco da memória sobre violações de direitos humanos no Brasil. Preservar o edifício, segundo técnicos envolvidos no processo, significa reconhecer o passado e criar condições para que ele seja debatido criticamente pelas gerações atuais.
Sede de vigilância e repressão
Durante décadas, o prédio serviu como ponto central de investigações, interrogatórios e produção de relatórios de controle social. Muitos cidadãos que defendiam posições contrárias ao regime militar ou que eram considerados “ameaça política” passaram por seus corredores. A história da construção, portanto, não se restringe ao valor arquitetônico, mas se estende ao papel que desempenhou em um dos períodos mais duros do país.
O tombamento não tem como objetivo celebrar o passado autoritário, mas sim impedir o apagamento desse capítulo. A preservação material do edifício cria a possibilidade de que ele seja utilizado, futuramente, como espaço de memória, centro cultural ou museu dedicado à educação e reflexão sobre a ditadura.
Debate sobre como lidar com a memória
A decisão reacende discussões sobre como o Brasil lida com sua história recente. Em outros países que viveram regimes autoritários, como Argentina, Chile e Alemanha, prédios utilizados por órgãos de repressão foram transformados em espaços educativos abertos ao público. No Brasil, esse processo ainda ocorre de maneira desigual, com iniciativas locais ou setoriais.
Movimentos sociais, pesquisadores e familiares de vítimas da ditadura defendem que espaços como esse não devem ser abandonados ou descaracterizados. Para eles, reconhecer e preservar é uma forma de impedir que práticas autoritárias sejam normalizadas ou repetidas.
O que muda a partir do tombamento
Com o tombamento aprovado, qualquer intervenção no prédio deverá ser autorizada pelo Iphan. Isso inclui reformas estruturais, alterações de fachada e até mudanças de uso. A proteção garante que o valor histórico do local seja mantido, ao mesmo tempo em que permite que o espaço seja adaptado para novas finalidades, desde que isso não comprometa sua identidade.
A decisão abre caminho para que o edifício ganhe novos usos culturais e educativos. Projetos de museus, arquivos de memória e centros de pesquisa podem se desenvolver a partir dessa proteção.
Memória para o futuro
O tombamento reforça a ideia de que preservar não é apenas manter paredes em pé, mas garantir que a sociedade tenha condições de olhar para sua própria história. Ao reconhecer oficialmente o prédio como patrimônio, o país assume que sua memória, mesmo quando dolorosa, precisa ser discutida, compreendida e revisitada.
A proteção do antigo Dops no Rio se insere, assim, em uma trajetória de resgate de espaços que ajudam a compreender como o Brasil se construiu, quais caminhos percorreu e quais erros não pode repetir.

