Economia

Corrida contra o tempo: Haddad tem 39 dias úteis para equilibrar Orçamento e viabilizar reforma do IR

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, enfrenta um dos maiores desafios de sua gestão ao entrar na reta final do ano com pouco menos de 40 dias úteis para encontrar R$ 35 bilhões e viabilizar o fechamento das contas públicas de 2025. A missão inclui, além de garantir equilíbrio no Orçamento, tentar aprovar no Congresso a aguardada reforma do Imposto de Renda, uma das promessas centrais da política fiscal do governo.

O cenário é de forte pressão política e econômica. O governo tenta cumprir a meta de déficit zero estabelecida na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), mas enfrenta resistência tanto do Congresso quanto do próprio mercado financeiro, que vê o objetivo como cada vez mais difícil de atingir sem cortes significativos de gastos ou aumento de arrecadação.

Nos bastidores, Haddad trabalha em frentes paralelas. De um lado, busca destravar medidas de arrecadação que ainda dependem de votação, como a taxação de fundos exclusivos e offshores, além da revisão de benefícios tributários concedidos a setores específicos. De outro, tenta negociar ajustes nas despesas públicas, especialmente em áreas onde há espaço para contingenciamento sem comprometer programas sociais e investimentos prioritários.

A proposta de reforma do Imposto de Renda é o segundo grande pilar da estratégia econômica. O texto, que ainda deve ser discutido com líderes partidários, pretende atualizar faixas de tributação, ampliar a faixa de isenção e aumentar a progressividade do sistema, buscando justiça fiscal e compensações que não ampliem o rombo nas contas públicas. O governo vê na aprovação dessa reforma uma sinalização política importante de responsabilidade fiscal, especialmente diante das críticas de economistas que apontam aumento do gasto público sem contrapartida de receitas.

Haddad também tenta preservar a credibilidade da Fazenda diante de ruídos políticos e de uma conjuntura internacional incerta. A valorização do dólar, o encarecimento do petróleo e o aumento das incertezas externas têm pressionado o câmbio e os juros no Brasil, criando um ambiente mais desafiador para o controle da inflação e o equilíbrio fiscal.

Internamente, o ministro tem insistido em reuniões com a equipe econômica e com a Casa Civil para alinhar um plano de contingência caso as medidas de arrecadação não sejam suficientes. A ideia é apresentar alternativas antes de dezembro, evitando a necessidade de manobras de última hora que prejudiquem a execução do Orçamento de 2025.

Enquanto isso, o clima no Congresso é de cautela. Parlamentares de diferentes partidos cobram mais transparência sobre o impacto das medidas fiscais e resistem a aprovar projetos que possam aumentar a carga tributária em um ano pré-eleitoral. Ao mesmo tempo, há pressões para que o governo mantenha investimentos em obras, infraestrutura e programas sociais, considerados estratégicos para as eleições municipais de 2026.

A contagem regressiva já começou. Com apenas 39 dias úteis até o recesso parlamentar, Haddad precisa encontrar soluções políticas e técnicas para fechar o Orçamento, evitar um déficit maior do que o previsto e, se possível, avançar com a reforma do IR. A missão é complexa e exige equilíbrio entre responsabilidade fiscal, diálogo com o Congresso e manutenção da confiança do mercado.

Se conseguir cumprir essas metas em tão pouco tempo, o ministro consolidará um dos capítulos mais importantes de sua gestão. Caso contrário, o governo Lula poderá começar 2026 sob forte pressão fiscal e política — com o desafio de provar que ainda há espaço para conciliar crescimento econômico, justiça tributária e equilíbrio nas contas públicas.

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