Haddad critica resistência da oposição: “No Brasil, virou pecado elogiar medida de governo progressista”
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, voltou a fazer um duro desabafo sobre o ambiente político polarizado do país. Durante entrevista nesta segunda-feira, o ministro afirmou que, no atual cenário brasileiro, “parece ser pecado elogiar uma medida de governo progressista”, em referência às reações negativas de parte da oposição e do mercado à recente Medida Provisória (MP) de reoneração e ajustes fiscais.
Haddad destacou que o debate econômico tem sido contaminado por viés ideológico, o que, segundo ele, impede uma análise racional sobre os impactos positivos de medidas que buscam corrigir distorções estruturais e garantir sustentabilidade fiscal.
“Vivemos um momento em que o debate técnico perdeu espaço para o jogo político. Quando o governo toma uma decisão responsável, que busca justiça tributária ou equilíbrio fiscal, parte da oposição reage como se fosse algo proibido apenas porque vem de um governo progressista”, disse o ministro.
Medida Provisória e reações do mercado
A fala de Haddad ocorreu após a publicação da MP que revisa benefícios tributários e impõe regras mais rígidas para empresas de grande porte, principalmente do setor financeiro e de apostas on-line. A proposta também prevê compensações fiscais para cobrir a perda de arrecadação provocada pela desoneração da folha de pagamento.
Apesar de especialistas avaliarem que a medida ajuda a reforçar o caixa do governo e reduzir o déficit, setores empresariais e parlamentares da oposição classificaram a MP como “intervencionista” e “excessivamente arrecadatória”.
Haddad rebateu as críticas dizendo que não se trata de aumento de impostos, mas de revisão de privilégios que beneficiam poucos em detrimento da maioria.
“Há setores que há anos pagam menos do que deveriam, enquanto trabalhadores e pequenas empresas arcam com uma carga maior. Corrigir isso é justiça tributária, não perseguição”, argumentou.
Polarização trava o diálogo
O ministro também lamentou o clima de intolerância política que domina as discussões públicas, tanto no Congresso quanto nas redes sociais. Segundo ele, qualquer tentativa de diálogo técnico é transformada em disputa ideológica, o que atrasa a aprovação de medidas essenciais para o país.
“É preciso entender que o Brasil precisa de responsabilidade fiscal e de inclusão social ao mesmo tempo. Não são ideias incompatíveis. O problema é que parte da elite política ainda não aceita que um governo progressista possa conduzir a economia com seriedade”, afirmou Haddad.
Essa crítica reflete uma preocupação antiga do ministro com o boicote sistemático de propostas do Executivo. Ele defende que o país só vai avançar quando o debate econômico for baseado em dados e resultados concretos, e não em disputas partidárias.
Apoio técnico e impacto esperado
Internamente, a equipe econômica do governo avalia que a MP é fundamental para o cumprimento da meta fiscal e para a credibilidade do novo arcabouço. Técnicos da Fazenda apontam que a medida pode gerar bilhões de reais em receitas adicionais, permitindo espaço para investimentos em infraestrutura e programas sociais.
Economistas independentes também reconhecem que o texto corrige distorções históricas, mas alertam que o desafio está em garantir que o Congresso não desidrate as mudanças durante a tramitação.
O próprio Haddad admitiu que há espaço para diálogo, mas frisou que o debate deve ser “honesto e racional”.
Conclusão
A declaração de Fernando Haddad revela o desgaste político e ideológico que acompanha as decisões econômicas do governo. Ao afirmar que virou “pecado elogiar medida de governo progressista”, o ministro expõe o quanto a polarização tem dificultado o consenso em torno de pautas técnicas e essenciais para o equilíbrio das contas públicas.
No centro da disputa está uma questão mais ampla: até que ponto o Brasil está disposto a discutir políticas públicas sem rótulos partidários. Para Haddad, o desafio não é apenas fiscal, mas cultural — o de superar o preconceito político e reconhecer que boas ideias podem surgir de qualquer espectro ideológico, desde que sejam voltadas para o bem coletivo.