Economia

Apreciação do real ajuda a conter impacto da taxa Selic elevada, indica análise do banco internacional

A recente valorização do real frente ao dólar e outras moedas estrangeiras está contribuindo significativamente para reduzir os efeitos negativos de uma taxa básica de juros elevada no Brasil. De acordo com avaliação do Banco de Compensações Internacionais (BIS), o fortalecimento da moeda brasileira tem funcionado como um fator de compensação em meio ao atual ciclo de política monetária restritiva conduzido pelo Banco Central.

Em um relatório que analisa a interação entre câmbio e juros em países emergentes, o BIS destacou que, no caso brasileiro, a apreciação do real tem atenuado a pressão inflacionária e, por consequência, suavizado os impactos econômicos de uma Selic ainda em patamar alto. Segundo o estudo, essa dinâmica cambial tem permitido uma absorção mais eficiente dos custos financeiros, especialmente no setor produtivo e nos preços de bens importados.

A valorização do real observada nos últimos meses se deve a uma combinação de fatores internos e externos. Entre eles, destaca-se a entrada líquida de capital estrangeiro no país, tanto por meio de investimentos diretos quanto de aplicações financeiras em renda fixa e variável. A atratividade dos juros brasileiros, apesar de altos, continua sendo um chamariz para investidores internacionais, sobretudo em um cenário global de incerteza e desaceleração de cortes de juros nos países desenvolvidos.

Além disso, a balança comercial brasileira tem apresentado superávits robustos, impulsionados principalmente pelo bom desempenho das exportações do agronegócio e da mineração. Essa entrada constante de dólares, somada à maior confiança de agentes econômicos na condução da política fiscal e monetária, tem gerado uma pressão positiva sobre o câmbio, valorizando o real.

O relatório do BIS aponta que, embora a taxa Selic em patamar elevado continue sendo uma preocupação para o crescimento econômico, a apreciação cambial ajuda a mitigar parte dos efeitos contracionistas. Isso ocorre porque a valorização da moeda nacional reduz o custo de produtos importados, alivia a pressão sobre a inflação e, consequentemente, reduz a necessidade de novos aumentos nos juros — ou mesmo acelera o espaço para cortes futuros.

Do ponto de vista macroeconômico, o fortalecimento do real também tem impactos positivos sobre a previsibilidade de preços e a estabilidade financeira. Em um país como o Brasil, com alta exposição ao comércio internacional e dependência de commodities, a taxa de câmbio é um componente central da formação de preços domésticos. Com o real mais forte, os repasses cambiais sobre o IPCA tendem a ser menores, contribuindo para a manutenção do poder de compra das famílias.

Ainda assim, o BIS alerta que essa dinâmica pode ser transitória. A valorização cambial, embora benéfica no curto prazo, depende de fatores externos que nem sempre estão sob controle da política econômica nacional. Mudanças no comportamento dos juros globais, conflitos geopolíticos ou alterações no apetite de risco dos investidores podem reverter o fluxo de capital para países emergentes, provocando uma nova desvalorização do real.

Além disso, a autoridade monetária brasileira deve continuar observando com cautela o equilíbrio entre câmbio e juros. O Banco Central tem sinalizado que, apesar das condições mais favoráveis no câmbio, a política monetária seguirá guiada pelas metas de inflação e pelas expectativas do mercado. Ou seja, mesmo com o real mais valorizado, a redução da Selic dependerá da consolidação de um cenário inflacionário benigno e do avanço das reformas fiscais.

Economistas também destacam que, embora o câmbio favorável alivie parte da pressão da política de juros, isso não elimina os efeitos adversos da Selic elevada sobre o crédito e o consumo. Famílias e empresas ainda sentem os impactos do encarecimento do financiamento, o que limita o dinamismo da economia no curto prazo. Portanto, a valorização do real é vista mais como um “alívio parcial” do que como uma solução completa para o atual quadro de política monetária.

Ainda assim, o momento é visto com otimismo moderado por investidores e agentes econômicos. Com o real mais forte, inflação sob controle e superávits comerciais recorrentes, o Brasil apresenta um ambiente mais estável para a tomada de decisões econômicas. Resta agora saber até quando essa combinação de fatores favoráveis poderá ser sustentada — e como o governo e o Banco Central irão se posicionar diante dos próximos desafios fiscais e monetários.

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