Tarcísio entre o “nunca mais” e o “jamais”: visita a Bolsonaro mistura gesto político, mal-estar e narrativas
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, bateu ponto na casa de Jair Bolsonaro em meio a um cenário de enredo dramático e repetição de palavras que grudam como slogans: “nunca mais” e “jamais”. A visita, além de carregar peso político, acabou se confundindo com episódios de saúde do ex-presidente — vômitos, consultas médicas e a já conhecida rotina de internações que marcam sua biografia recente.
O movimento de Tarcísio
Ir a Bolsonaro não é apenas um gesto de solidariedade pessoal. É também uma demonstração de fidelidade a um campo político que ainda busca se reorganizar. Tarcísio, apontado por muitos como herdeiro natural do bolsonarismo, precisa equilibrar dois pratos: mostrar respeito ao padrinho e, ao mesmo tempo, construir sua própria trajetória, sem ficar refém de um passado que insiste em se projetar para o presente.
O corpo como narrativa
Os episódios de mal-estar de Bolsonaro, que já renderam longas estadias em hospitais, são agora elementos centrais de sua narrativa. O corpo debilitado serve tanto de argumento de vitimização quanto de reforço simbólico: a ideia de um líder perseguido que resiste mesmo diante das adversidades. O detalhe é que, quanto mais se fala em vômitos e dores, mais se reforça o aspecto humano — mas também se instala a imagem de fragilidade.
“Nunca mais” e “jamais”
Essas duas expressões, repetidas por aliados e pela própria retórica bolsonarista, são ao mesmo tempo gritos de guerra e sinais de uma trincheira. O “nunca mais” mira o retorno da esquerda ao poder; o “jamais” é o escudo contra qualquer tentativa de afastar Bolsonaro da vida política. No entanto, quanto mais se repete, mais parece encapsular um movimento de resistência que não oferece saída prática.
O risco da redundância
A cena de Tarcísio ao lado de Bolsonaro pode ser lida como reafirmação, mas também como aprisionamento. A política, afinal, vive de renovação, e repetir palavras de ordem sem ampliar o repertório pode desgastar tanto quanto os próprios escândalos e crises. O governador paulista sabe disso — por isso tenta se colocar como figura capaz de dialogar para além da bolha bolsonarista, ainda que a sombra do “mito” continue a segui-lo.
O saldo
No fim, a visita foi mais do que um gesto de cortesia. Foi um mergulho em símbolos e narrativas que tentam manter o bolsonarismo vivo. Mas o episódio também mostrou os limites: um ex-presidente fragilizado, um governador que não pode ficar preso apenas a um legado, e um campo político que precisa escolher se seguirá repetindo “nunca mais” e “jamais” como mantra ou se buscará novos caminhos para existir.