O enfraquecimento global do dólar: o que explica a perda de valor da moeda mais poderosa do planeta
O dólar norte-americano, por décadas o símbolo máximo de estabilidade e força econômica, vem registrando desvalorização não apenas frente ao real, mas diante de uma cesta de moedas ao redor do mundo. O fenômeno chama a atenção porque não se trata de uma oscilação pontual: há fatores estruturais e conjunturais que explicam por que a moeda que já foi quase incontestável como reserva internacional de valor está sob pressão.
A política monetária dos EUA e a expectativa de cortes de juros
Um dos principais motores da perda de força do dólar é a perspectiva de que o Federal Reserve (Fed) reduza sua taxa de juros em breve. Nos últimos anos, os EUA elevaram agressivamente os juros para conter a inflação, atraindo capitais globais em busca de retornos mais altos em títulos norte-americanos.
Agora, com a inflação dando sinais de arrefecimento, o mercado já projeta cortes graduais. Isso diminui a atratividade do dólar, porque investidores buscam diversificar seus portfólios em mercados emergentes ou em moedas alternativas que ofereçam maior rentabilidade.
Economia global menos dependente da moeda americana
Outro fator importante é o processo de desdolarização parcial em curso. Países como China, Rússia e até mesmo alguns parceiros da União Europeia vêm promovendo acordos bilaterais em suas próprias moedas, reduzindo a necessidade de transações internacionais em dólar. Esse movimento, ainda tímido em termos globais, tem valor simbólico e pressiona a percepção de hegemonia da moeda norte-americana.
Fluxo para mercados emergentes
Com juros mais baixos nos EUA, investidores voltam a olhar para mercados emergentes, como Brasil, México, Índia e Indonésia. Essas economias oferecem maior potencial de crescimento e, em alguns casos, moedas fortalecidas por fundamentos locais. O real, por exemplo, ganhou fôlego extra graças à combinação de juros altos, exportações de commodities e entrada de capitais estrangeiros.
Esse redirecionamento do fluxo financeiro global enfraquece a demanda pelo dólar, ampliando sua desvalorização em diferentes frentes.
Comércio internacional e diversificação de reservas
Bancos centrais de vários países têm aumentado a diversificação de suas reservas cambiais, reduzindo a fatia de dólares e ampliando a participação de outras moedas, como euro e yuan. Essa tendência, que já vinha em gestação desde a crise de 2008, ganhou velocidade nos últimos anos diante de tensões geopolíticas e do uso do dólar como instrumento de sanções internacionais.
Quanto mais países buscam alternativas, menor é a pressão compradora pela moeda americana.
Ouro e ativos digitais como refúgio
Outro ponto que contribui para o enfraquecimento é a busca por ativos alternativos. O ouro atingiu recordes históricos em 2025, impulsionado por incertezas geopolíticas e pela desconfiança em relação ao poder de compra do dólar no longo prazo. Paralelamente, mesmo sob forte volatilidade, algumas criptomoedas voltaram a ganhar espaço como alternativa de diversificação patrimonial.
Esse deslocamento de capital pressiona ainda mais o dólar, reduzindo sua função de porto seguro absoluto.
Perspectivas para o futuro
Embora o dólar siga sendo a principal moeda do mundo — responsável por mais de 50% das transações globais e ainda central em contratos internacionais — o cenário atual indica que sua supremacia enfrenta desafios inéditos.
Especialistas não projetam uma substituição imediata, mas sim uma perda gradual de relevância relativa. O resultado é um dólar mais fraco e volátil, sensível não só às políticas dos EUA, mas também a movimentos coordenados de outros blocos econômicos.