No Acre, avaliação negativa do governo Lula ultrapassa 60%, enquanto apoio permanece abaixo dos 35%, segundo levantamento
Uma pesquisa de opinião realizada recentemente no estado do Acre revelou um cenário preocupante para o Palácio do Planalto: a maioria dos eleitores acreanos demonstra insatisfação com a gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Segundo os dados, 61,7% da população desaprova a condução do governo federal, enquanto apenas 34,9% aprovam o trabalho realizado até o momento. Os números indicam um clima de desconfiança e distanciamento entre o eleitorado local e a administração petista.
O resultado chama atenção por ocorrer em uma região historicamente sensível a pautas conservadoras e de forte presença bolsonarista, o que ajuda a explicar parte da rejeição. Ainda assim, o alto índice de desaprovação é visto como sinal de alerta, especialmente em um contexto nacional de polarização política e desgaste de imagem institucional.
Acre se consolida como reduto crítico ao governo federal
O levantamento confirma uma tendência já observada em outras pesquisas: o Acre figura entre os estados com menor adesão ao governo federal sob Lula. A região Norte, de forma geral, tem apresentado índices de aprovação mais baixos em comparação com o Nordeste e parte do Sudeste, revelando um fosso político cada vez mais visível entre os diferentes perfis regionais do país.
No caso específico do Acre, fatores como a crise na segurança pública, o aumento da percepção de abandono federal em áreas como infraestrutura e desenvolvimento econômico, e a insatisfação com políticas ambientais impactando produtores rurais, têm alimentado o descontentamento popular.
Adicionalmente, a forte presença de evangélicos, militares e defensores de pautas conservadoras nas lideranças locais reforça a resistência a políticas progressistas defendidas por Lula e sua base aliada.
Baixa aprovação reflete desconexão com demandas regionais
Entre os que desaprovam o governo, muitos apontam que as ações da atual gestão federal não têm se traduzido em melhorias concretas no estado. Obras federais paradas, ausência de investimentos diretos em áreas estratégicas e a falta de presença efetiva de representantes do governo em território acreano são queixas frequentes.
A percepção é de que o Acre não tem sido tratado como prioridade nas decisões de Brasília, e que há uma dificuldade persistente em fazer com que políticas públicas cheguem com eficiência ao interior do estado, onde a vulnerabilidade social é mais acentuada.
Popularidade de Lula sofre pressão em cenário nacional dividido
Embora o presidente ainda mantenha aprovação razoável em diversos estados do país, os dados do Acre expõem um dos maiores desafios do atual governo: a reconstrução da imagem institucional em territórios onde o bolsonarismo deixou marcas profundas. O próprio presidente já reconheceu, em discursos anteriores, a dificuldade de recuperar a confiança em regiões que foram amplamente influenciadas por narrativas contrárias ao PT e ao seu projeto político.
Analistas políticos observam que, embora o presidente esteja investindo em programas sociais e obras de infraestrutura, a comunicação com essas populações tem sido falha. A imagem construída durante a campanha, de um governo próximo dos mais pobres e preocupado com o desenvolvimento regional, ainda não se concretizou para grande parte da população acreana, que segue desconfiada.
Bolsonarismo ainda forte no Acre influencia avaliação popular
O alto índice de rejeição ao governo Lula no Acre também é influenciado pelo peso do bolsonarismo no estado. Jair Bolsonaro obteve desempenho expressivo na região nas eleições de 2018 e 2022, consolidando uma base fiel e ativa de apoiadores.
Lideranças políticas locais, alinhadas ao ex-presidente, continuam mobilizadas e atuantes, ocupando cargos estratégicos e mantendo forte presença nas redes sociais e nos meios de comunicação. Essa presença contínua ajuda a alimentar o discurso de oposição ao governo federal e contribui para a manutenção do clima de rejeição a Lula.
Além disso, temas sensíveis como políticas ambientais, controle de terras e demarcações indígenas, que são parte do pacote de ações do governo federal, encontram resistência entre produtores rurais e empresários da região, que veem nessas políticas entraves ao desenvolvimento econômico local.
Esforços de aproximação ainda não surtem efeito esperado
O governo federal tem tentado reverter esse cenário por meio de visitas ministeriais, anúncios de investimento e reforço de políticas sociais no Norte do país. No entanto, até o momento, esses movimentos não parecem ter surtido o efeito esperado no Acre. A avaliação segue majoritariamente negativa, e a imagem do governo permanece associada a distanciamento, burocracia e promessas não cumpridas.
Há, dentro do próprio PT, quem defenda uma estratégia mais agressiva de presença institucional no estado, com agendas públicas, programas regionais direcionados e parcerias mais firmes com lideranças locais — inclusive com setores historicamente críticos ao partido.
Eleições municipais de 2024 serão teste para a influência do governo no estado
A proximidade das eleições municipais representa uma nova etapa na disputa de forças políticas dentro do Acre. A aprovação (ou rejeição) do governo Lula poderá influenciar diretamente no desempenho de candidatos apoiados pelo PT ou por partidos aliados. Se a desaprovação se mantiver em alta, o campo da direita tende a sair fortalecido, o que poderá ampliar ainda mais a distância entre o governo federal e o eleitorado do estado.
Por outro lado, uma reversão parcial dessa rejeição, caso ocorra até o próximo ano, poderá sinalizar um início de reaproximação com setores mais moderados do eleitorado, especialmente nas áreas urbanas.
Conclusão: rejeição acentuada no Acre evidencia desafios regionais do governo Lula
O levantamento que aponta 61,7% de desaprovação ao governo Lula no Acre mostra que o presidente enfrenta dificuldades reais em consolidar apoio fora de seus redutos tradicionais. A forte influência do bolsonarismo, aliada à sensação de ausência do governo federal no estado, compõe um cenário em que a popularidade presidencial segue em baixa.
Para reverter esse quadro, o governo precisará mais do que programas nacionais — será necessário escutar, dialogar e agir de forma específica, respeitando as particularidades locais e reconstruindo pontes com a população acreana, que hoje se mostra distante, crítica e, em grande parte, desiludida com a atual gestão.