Politica

Impasses políticos entre Davi Alcolumbre e Hugo Motta emperram andamento da proposta de anistia

Nos bastidores do Congresso Nacional, um jogo silencioso de poder tem atrasado significativamente o avanço de um dos textos mais aguardados por diversos setores da política brasileira: a proposta de anistia eleitoral e partidária. O que deveria ser um processo técnico e legislativo está, na prática, sendo atravancado por embates internos entre dois dos nomes mais influentes do atual cenário político: o presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), e o deputado federal Hugo Motta (Republicanos-PB), relator de peso na Câmara.

O texto da anistia, que busca abrandar ou extinguir punições relacionadas a irregularidades em prestações de contas de partidos políticos, tem enfrentado forte resistência não apenas por fatores externos ou pela opinião pública, mas principalmente por descompassos internos entre lideranças do Legislativo. A disputa, travestida de divergências técnicas, reflete interesses pessoais, partidários e até regionais, alimentando uma espécie de “queda de braço” entre Câmara e Senado.

A disputa por protagonismo legislativo

Hugo Motta tem atuado nos bastidores com o apoio de lideranças do Centrão para acelerar o avanço da matéria na Câmara. Ele vê a anistia como parte de uma pauta estratégica que, para muitos, é essencial para pacificar o ambiente político-partidário diante do cerco da Justiça Eleitoral às legendas. Motta tem defendido uma tramitação célere e discreta, com o mínimo de desgaste público possível. Contudo, essa articulação encontra uma muralha no Senado.

Do outro lado, Davi Alcolumbre exerce um poder significativo como presidente da CCJ do Senado, por onde qualquer proposta relevante precisa passar. Com seu histórico de negociações silenciosas e atuação forte nos bastidores, Alcolumbre tem se posicionado como uma espécie de filtro final do que avança no Congresso. Apesar de não ter declarado objeções públicas ao texto da anistia, sua conduta tem sido interpretada como um sinal claro de contenção, travando o andamento da matéria por motivos que extrapolam a técnica legislativa.

Um embate de agendas e influências

O que está em jogo vai muito além de um projeto de lei. Trata-se da disputa por controle sobre as narrativas legislativas, influência sobre os rumos da política partidária e, principalmente, do timing de decisões que podem afetar profundamente o equilíbrio de forças entre legendas tradicionais, partidos do centrão e novos agrupamentos políticos.

A relação entre Motta e Alcolumbre, embora não seja publicamente hostil, está longe de ser harmoniosa. Fontes internas do Congresso indicam que há um histórico de desconfiança mútua e, mais recentemente, uma competição cada vez mais acirrada por espaço e reconhecimento dentro das estruturas do Legislativo. Essa rivalidade, ainda que silenciosa, tem reflexos práticos e concretos, como o impasse na tramitação da anistia.

Consequências práticas da paralisia

Enquanto o texto segue paralisado, dirigentes partidários demonstram crescente frustração. Muitos esperavam que a proposta avançasse com mais fluidez, especialmente diante do calendário eleitoral e da urgência em resolver pendências jurídicas que envolvem partidos de todos os espectros. O atraso também afeta diretamente as estratégias para as eleições municipais e gerais, já que a regularização de contas partidárias impacta diretamente no acesso ao fundo partidário e ao tempo de propaganda no rádio e na TV.

Além disso, a demora cria um ambiente de incerteza que favorece negociações informais e acordos subterrâneos, em que a barganha política se torna mais valiosa do que o debate público. É um cenário propício para alianças de ocasião, concessões cruzadas e trocas de favores entre lideranças que controlam as chaves das comissões mais influentes.

A expectativa do meio político

Nos corredores de Brasília, a expectativa gira em torno de uma possível reaproximação entre Alcolumbre e Motta, ou ao menos de uma trégua estratégica que permita o avanço da pauta. No entanto, até o momento, não há sinais de que isso vá acontecer em curto prazo. Pelo contrário: a cada semana que passa, a situação parece mais consolidada em uma espécie de impasse velado.

Para muitos, a solução passará por uma negociação de alto nível, que envolva também a cúpula das duas Casas legislativas e, possivelmente, interferência direta do Palácio do Planalto, que observa de perto o desenrolar dessa disputa, mesmo sem se manifestar abertamente sobre o tema.

Um retrato da política real

O caso da anistia é, em última instância, um retrato da política brasileira em sua forma mais crua: uma arena onde decisões técnicas são moldadas por dinâmicas de poder, rivalidades pessoais e disputas por protagonismo. A paralisação do texto é mais um episódio que revela como os bastidores políticos muitas vezes exercem mais influência do que os debates públicos e como as relações entre parlamentares podem impactar diretamente o rumo de propostas com forte repercussão nacional.

Enquanto isso, o país segue à espera de uma definição que, goste-se ou não da proposta, é essencial para o funcionamento institucional do sistema partidário brasileiro. Mas, por ora, o avanço da anistia continua refém do conflito entre dois dos nomes mais estratégicos do Congresso.

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