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Salto arriscado do Senado obriga Motta a reagir sobre reforma do Imposto de Renda

O tabuleiro político em Brasília ganhou nova temperatura depois que o Senado avançou em ritmo próprio sobre a reforma do Imposto de Renda (IR). O movimento foi lido por muitos como um “salto ousado”, já que atropelou entendimentos anteriores e pressionou diretamente a Câmara dos Deputados, sob a batuta do presidente Arthur Motta.


Senado rompe a espera e se antecipa

Tradicionalmente, projetos estruturantes como a reforma tributária são conduzidos com negociações prolongadas entre as duas Casas. Mas, neste caso, os senadores decidiram quebrar a lógica da prudência. Ao colocar em pauta trechos sensíveis do IR — como correção da tabela, tratamento a empresas e regras para dividendos —, o Senado sinalizou que não pretende ser apenas “carimbador” de propostas vindas da Câmara.

Esse gesto foi interpretado como um recado: o Senado busca protagonismo em uma matéria que afeta diretamente a vida da população e o caixa da União.


Pressão sobre Motta

Diante desse cenário, Arthur Motta se vê forçado a reagir. Até então, sua estratégia era administrar a Câmara com foco nas pautas de interesse imediato do centrão, deixando a discussão mais profunda do IR para um momento de maior consenso.

Com o Senado se movimentando, porém, Motta não pode mais simplesmente empurrar a decisão com a barriga. Deputados já começaram a cobrar uma posição firme, temendo que a Casa perca espaço no debate e seja acusada de omissão diante de um tema que mobiliza o eleitorado.


O nó político e fiscal

O ponto de maior tensão é que a reforma do IR envolve não apenas justiça tributária, mas também impacto fiscal. Corrigir a tabela significa alívio para a classe média e para trabalhadores formais, mas gera queda de arrecadação. Ao mesmo tempo, tributar dividendos mexe diretamente com grandes empresas e investidores.

O governo, que acompanha a disputa de camarote, sabe que a briga entre Senado e Câmara pode até favorecer sua estratégia: deixar que o Congresso se desgaste com a partilha dos ônus e bônus da reforma.


O risco do salto

O “salto” do Senado pode virar vitória de imagem, mas também contém riscos. Se não houver sintonia entre as duas Casas, o resultado pode ser um projeto desidratado ou travado. A história legislativa brasileira mostra que reformas tributárias só avançam quando há coordenação mínima — do contrário, a disputa vira paralisia.

Para Motta, a situação é de dilema: ou assume as rédeas e mostra liderança, ou se arrisca a passar à História como o presidente da Câmara que perdeu o compasso em um dos debates mais relevantes da década.

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