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Brasil propõe articulação global sem participação dos EUA para alcançar metas climáticas abrangendo até 120 nações e 80% das emissões

À medida que se aproxima a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP30, o Brasil vem intensificando seu protagonismo nas negociações internacionais ao apresentar uma proposta ousada: reunir até 120 países em torno de metas climáticas ambiciosas que, juntas, representariam cerca de 80% das emissões globais de gases de efeito estufa — mesmo sem a inclusão dos Estados Unidos neste bloco articulado.

O plano, que vem sendo discutido no alto escalão do governo brasileiro e articulado por diplomatas e especialistas do Itamaraty, representa uma estratégia de liderança climática do país-sede da conferência, prevista para ocorrer em 2025, em Belém do Pará. A proposta sinaliza uma tentativa de construir um novo eixo de influência no debate climático global, liderado pelo Sul Global e centrado na cooperação entre países em desenvolvimento e economias emergentes.

De acordo com autoridades brasileiras envolvidas nas negociações preparatórias, o objetivo é construir um pacto climático mais equitativo, com compromissos concretos e viáveis, mas sem depender da adesão de países que historicamente têm apresentado resistência a metas mais rígidas — como é o caso dos Estados Unidos, cuja política ambiental oscila fortemente conforme a administração de turno.

O Brasil busca, com essa iniciativa, consolidar sua imagem de nação comprometida com a agenda ambiental e com a transição ecológica, ao mesmo tempo em que tenta ampliar sua influência diplomática em fóruns multilaterais. A proposta é reunir um número expressivo de países que, somados, representem a maior parte das emissões globais e, assim, pressionem as grandes potências e setores altamente emissores a se comprometerem com metas mais ambiciosas de mitigação.

A ausência dos EUA, embora significativa, não inviabilizaria o pacto pretendido. Pelo contrário, a ideia brasileira é justamente demonstrar que o combate às mudanças climáticas não precisa ficar refém da polarização geopolítica tradicional. A proposta inclui países da América Latina, África, Ásia e Europa, com destaque para nações que já têm demonstrado maior disposição em avançar na pauta climática, como Alemanha, França, Índia, Indonésia, África do Sul e México.

Além disso, o Brasil pretende articular internamente dentro do G77 e do BRICS, grupos dos quais faz parte, reforçando os laços de cooperação Sul-Sul e incentivando a adoção de políticas climáticas comuns. A ideia é criar um bloco coeso, que possa apresentar metas conjuntas e coordenadas durante as sessões da COP30, fortalecendo a posição política do grupo no cenário internacional.

Outro aspecto central da proposta brasileira é o foco em justiça climática e financiamento climático. O país defende que os compromissos assumidos por esse novo bloco estejam atrelados a mecanismos concretos de apoio técnico e financeiro aos países mais vulneráveis às mudanças do clima. O objetivo é garantir que a transição energética e o cumprimento das metas de redução de emissões não aprofundem desigualdades históricas entre nações desenvolvidas e em desenvolvimento.

Nesse sentido, o Brasil quer colocar a floresta amazônica e os biomas tropicais no centro da agenda da COP30. A realização da conferência em Belém, na região Norte do país, simboliza esse compromisso. O governo brasileiro tem enfatizado que a proteção da floresta não é apenas uma prioridade nacional, mas uma responsabilidade global, e que ações de preservação exigem cooperação financeira, tecnológica e institucional.

O plano do Brasil também busca fortalecer a credibilidade do país no cenário ambiental, após anos de críticas internacionais durante períodos de aumento do desmatamento e desestruturação de órgãos de fiscalização ambiental. A atual gestão tenta reverter esse histórico por meio de políticas de recomposição florestal, retomada de metas do Acordo de Paris e combate às atividades ilegais na Amazônia.

Mesmo com a exclusão dos EUA da proposta inicial, o Brasil não fecha as portas para uma futura participação norte-americana. O que o país quer evitar é a dependência de um ator que, em diversas ocasiões, abandonou ou fragilizou acordos multilaterais, como ocorreu com a retirada dos EUA do Acordo de Paris durante a administração anterior. Para os formuladores da estratégia brasileira, o mundo precisa avançar com ou sem a adesão das superpotências, e essa independência é vista como essencial para garantir o avanço das negociações.

A proposta brasileira, no entanto, ainda enfrenta desafios. Será necessário conciliar interesses diversos entre países com diferentes níveis de desenvolvimento, perfis econômicos e capacidades tecnológicas. As metas terão que ser ambiciosas, mas também realistas e adaptadas à realidade de cada país. O governo brasileiro acredita que esse equilíbrio será possível por meio de diálogo transparente e coordenação técnica eficaz entre as nações participantes.

A COP30 é vista como uma oportunidade histórica para redefinir os rumos do enfrentamento à crise climática. Com eventos climáticos extremos se intensificando em todo o planeta, há crescente pressão social e científica por ações mais firmes e coordenadas. O Brasil quer transformar essa pressão em ação diplomática concreta, liderando pelo exemplo e oferecendo uma plataforma de cooperação pragmática e inclusiva.

Se a articulação for bem-sucedida, poderá consolidar um novo modelo de governança climática global, baseado na diversidade de vozes e na solidariedade internacional — um contraponto aos impasses que frequentemente travam o avanço das negociações em fóruns tradicionais. Para o Brasil, esse protagonismo não é apenas uma estratégia de política externa, mas também uma afirmação de identidade nacional: um país biodiverso, detentor de uma das maiores reservas naturais do planeta e com responsabilidade direta no futuro do clima global.

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