Economia

EUA arrastam processo aberto pelo Brasil na OMC e evitam marcar reunião

Uma disputa que se arrasta nos bastidores

O Brasil abriu um processo contra os Estados Unidos na Organização Mundial do Comércio (OMC), mas a tramitação tem sido marcada por atrasos estratégicos. Segundo diplomatas em Genebra, Washington tem utilizado artifícios processuais para evitar a marcação de reuniões formais, prolongando o andamento da disputa e adiando decisões que poderiam afetar diretamente setores relevantes da economia brasileira. O caso ilustra não apenas a dificuldade de pequenos e médios países em enfrentar potências dentro do sistema multilateral de comércio, mas também expõe o momento de fragilidade da própria OMC.

O que está em jogo

O processo movido pelo Brasil questiona medidas adotadas pelos Estados Unidos em relação a tarifas e subsídios que, na avaliação de Brasília, distorcem a concorrência internacional e prejudicam exportadores nacionais. O alvo central são barreiras comerciais que dificultam a entrada de produtos agrícolas e industriais brasileiros no mercado norte-americano, em um cenário no qual a relação bilateral já é marcada por disputas históricas, como ocorreu anteriormente com o algodão e o etanol.

A estratégia norte-americana

Ao evitar a marcação de reuniões no âmbito da OMC, os Estados Unidos utilizam uma prática conhecida entre especialistas como “tática do atraso”, em que a potência reconhece a abertura da disputa, mas cria obstáculos burocráticos para postergar qualquer decisão concreta. Essa postura reduz a eficácia do mecanismo multilateral, pois prolonga indefinidamente a fase de consultas e impede que um painel de especialistas seja estabelecido para analisar o mérito da questão.

Consequências para o Brasil

Para o Brasil, o arrastamento do processo representa prejuízos econômicos diretos e indiretos. Exportadores brasileiros ficam sujeitos a tarifas adicionais e barreiras regulatórias que limitam a competitividade de seus produtos nos Estados Unidos, considerado um dos mercados mais lucrativos do mundo. Além disso, a demora gera insegurança jurídica para investidores e produtores, que ficam sem clareza sobre o futuro de seus contratos e estratégias de exportação.

Impacto na credibilidade da OMC

A postura dos EUA não afeta apenas o Brasil, mas a própria credibilidade da OMC. Criada para mediar disputas comerciais de forma imparcial, a organização tem visto sua capacidade de decisão enfraquecida nos últimos anos, especialmente após os norte-americanos bloquearem a nomeação de juízes para o órgão de apelação. O caso brasileiro, portanto, se soma a uma lista crescente de disputas em que a solução parece cada vez mais distante, colocando em xeque a relevância da entidade no cenário internacional.

A memória do caso do algodão

Um exemplo marcante do passado é o litígio sobre os subsídios ao algodão, em que o Brasil processou os Estados Unidos na OMC e conseguiu vitória histórica, obrigando Washington a alterar políticas agrícolas. No entanto, a conquista só foi possível após anos de batalhas diplomáticas e forte pressão internacional. O atual processo remete a esse episódio e levanta dúvidas sobre se o Brasil conseguirá repetir a estratégia de resistência em um contexto ainda mais complexo.

Reações políticas e diplomáticas

Em Brasília, a demora tem gerado insatisfação entre representantes do agronegócio e de setores industriais. Diplomatas defendem que o país mantenha firmeza nas negociações, mas reconhecem que a resistência norte-americana é difícil de superar sem articulação conjunta com outras nações. Nesse sentido, há expectativa de que o Brasil busque alianças com países emergentes e até mesmo com a União Europeia, que também tem se mostrado crítica a determinadas práticas comerciais dos EUA.

Possíveis desdobramentos

Embora ainda não haja prazo definido para a próxima etapa do processo, especialistas apontam três cenários possíveis:

  1. Persistência do impasse, com os EUA prorrogando indefinidamente a tramitação.
  2. Abertura de negociações bilaterais paralelas, em que o Brasil buscaria acordos diretos com Washington para reduzir danos a exportadores.
  3. Pressão diplomática coordenada, envolvendo outros países prejudicados, forçando os Estados Unidos a aceitar o andamento do caso na OMC.

O jogo de poder internacional

Mais do que um litígio comercial, a disputa revela como o comércio internacional é também um campo de geopolítica. Os EUA, enquanto maior potência econômica e militar do planeta, utilizam seu peso político para influenciar instituições multilaterais. Para o Brasil, o desafio é mostrar resiliência e capacidade de articulação internacional para não ver sua posição fragilizada em um momento em que busca ampliar protagonismo global.

O futuro da disputa

Seja qual for o desfecho, o processo na OMC tende a se arrastar por meses, ou até anos. O Brasil deve insistir na continuidade do caso como forma de sinalizar que não aceita práticas comerciais desleais, mesmo diante de manobras protelatórias. A decisão terá impacto não apenas sobre exportadores, mas também sobre a percepção internacional da capacidade do país de defender seus interesses no tabuleiro global.

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