Setor de serviços cresce pelo 16º mês seguido e alcança recorde histórico
Um motor cada vez mais forte da economia
O setor de serviços do Brasil consolidou em agosto o 16º mês consecutivo de crescimento, atingindo o maior patamar da série histórica. Esse desempenho reforça a importância dos serviços como o principal motor da economia brasileira, responsável por mais de 70% do Produto Interno Bruto (PIB) e pela maior parte dos empregos formais no país. O avanço sustentado, mesmo em um cenário de juros altos e incertezas externas, mostra a resiliência de um segmento que reflete diretamente os hábitos de consumo da população e a recuperação gradual da renda.
O que impulsionou a expansão
O crescimento foi disseminado em diversos segmentos, mas alguns setores se destacaram:
- Transporte aéreo e terrestre, impulsionados pela retomada do turismo interno e pela expansão do comércio eletrônico, que depende cada vez mais de logística eficiente.
- Tecnologia da informação e comunicação, que segue em forte demanda com a digitalização de empresas e serviços, além do avanço das soluções de inteligência artificial e automação.
- Serviços prestados às famílias, como bares, restaurantes, hotéis e entretenimento, beneficiados pelo aumento da circulação de pessoas, feriados prolongados e eventos de grande porte.
- Serviços profissionais e administrativos, ligados a consultoria, advocacia, contabilidade e terceirização, que cresceram acompanhando o dinamismo de outros setores.
A força do consumo interno
Mesmo diante de um cenário em que o crédito segue caro e seletivo, o consumo das famílias continua sendo um dos pilares da expansão dos serviços. O aumento gradual do emprego formal, a desaceleração da inflação e programas de transferência de renda criaram uma base mais estável para que a população volte a consumir serviços, especialmente em áreas ligadas ao lazer e ao turismo. Além disso, a popularização de pagamentos digitais e do Pix parcelado, recém-regulamentado pelo Banco Central, pode abrir novas possibilidades de acesso para consumidores que antes ficavam limitados.
Juros altos ainda pesam
Se por um lado o setor de serviços cresce de forma impressionante, por outro ainda enfrenta desafios. O custo elevado do crédito segue como obstáculo, principalmente para pequenos empresários que dependem de financiamento para expandir negócios. O crédito caro encarece investimentos em modernização, reformas e contratação de pessoal, limitando o fôlego de crescimento em alguns segmentos. A expectativa é que, com a possível redução gradual da taxa básica de juros nos próximos trimestres, esse cenário se torne menos restritivo.
Impacto no emprego e na renda
O bom momento do setor de serviços também se reflete no mercado de trabalho. Nos últimos meses, o segmento foi responsável pela maior parte das novas vagas com carteira assinada no país, especialmente em atividades ligadas ao turismo, alimentação, tecnologia e saúde. Esse avanço gera não apenas renda imediata, mas também confiança maior entre consumidores, que se sentem encorajados a gastar mais, retroalimentando o ciclo de crescimento.
Comparação com outros setores
Enquanto a indústria e a agropecuária apresentaram oscilações, com meses de retração e recuperação, os serviços se mantiveram em trajetória consistente. Esse comportamento reforça a ideia de que o Brasil vive um processo de transformação estrutural, em que a economia de serviços ganha cada vez mais relevância diante da urbanização, da digitalização e da mudança nos hábitos de consumo.
Desafios para sustentar o recorde
Apesar dos resultados positivos, especialistas alertam que manter o ritmo de crescimento por muito mais tempo exigirá políticas públicas voltadas para:
- Modernização da infraestrutura urbana e logística.
- Investimentos em capacitação profissional, já que a digitalização exige novas habilidades.
- Redução do custo do crédito, especialmente para pequenos empreendedores.
- Garantia de estabilidade macroeconômica, para evitar choques de confiança.
Um recorde com peso simbólico
Alcançar o maior nível da série histórica não é apenas uma marca estatística. Trata-se de um símbolo da capacidade de adaptação da economia brasileira após períodos de recessão, crise sanitária e instabilidade política. O setor de serviços mostra que, quando há estímulo ao consumo e recuperação da renda, a engrenagem pode girar de forma consistente e gerar impactos positivos em todo o país.
O que esperar daqui para frente
A tendência é que os serviços sigam puxando o PIB nos próximos meses, ainda que em ritmo menos acelerado. Fatores como a entrada do 13º salário no fim do ano, a Black Friday, as festas de Natal e a temporada de férias devem manter a demanda aquecida em turismo, transportes, lazer e comércio. Contudo, a manutenção dessa trajetória dependerá também de avanços na agenda econômica, da redução dos juros e da capacidade do país em criar um ambiente mais favorável para investimentos.