Maioria dos brasileiros manifesta desconfiança em relação às redes sociais, aponta nova pesquisa
Um levantamento recente realizado pelo instituto Quaest revelou uma percepção crítica dos brasileiros em relação ao papel das redes sociais na sociedade contemporânea. Segundo os dados divulgados, 57% da população afirma não confiar nas plataformas digitais como fontes de informação ou como espaços seguros de interação.
Os resultados da pesquisa indicam uma crescente desconfiança em relação ao ambiente virtual, sobretudo no que se refere à propagação de notícias falsas, manipulação de conteúdos e à influência das redes sociais sobre a opinião pública. Ao mesmo tempo, o estudo também mostra que, apesar da descrença, a maioria dos brasileiros continua utilizando essas plataformas no dia a dia, criando um paradoxo entre uso frequente e baixa credibilidade.
Desconfiança cresce em meio a escândalos e desinformação
Nos últimos anos, as redes sociais passaram de ferramentas de conexão pessoal para ambientes de intensa circulação de informações — muitas delas sem verificação ou origem confiável. Casos notórios de fake news, manipulação de algoritmos, campanhas de desinformação e até interferência em processos eleitorais contribuíram para abalar a confiança do público nas plataformas digitais.
A pesquisa da Quaest revela que essa desconfiança se tornou majoritária. O número de brasileiros que afirma não confiar nas redes sociais representa uma mudança de percepção importante. Se, no início da década passada, o entusiasmo com o potencial democrático dessas ferramentas era quase unânime, hoje predomina a cautela, principalmente entre os que consomem conteúdo político, econômico e social.
A tendência de rejeição cresce entre os grupos mais escolarizados e entre os que afirmam acompanhar os acontecimentos do país com frequência. Também há um aumento da desconfiança entre pessoas mais velhas, que se mostram mais preocupadas com a dificuldade de distinguir o que é verdadeiro e o que é manipulado nos conteúdos compartilhados.
Plataformas mais citadas no centro das críticas
Embora o levantamento não tenha divulgado individualmente os índices de desconfiança por plataforma, o debate público tem concentrado atenção em redes sociais de maior alcance, como Facebook, WhatsApp, Instagram, X (antigo Twitter) e TikTok. Essas ferramentas, além de populares, foram palco de diversas controvérsias nos últimos anos, como disseminação de desinformação sobre saúde pública, fraudes eleitorais, ataques a instituições e discursos de ódio.
Especialistas ouvidos por entidades de pesquisa apontam que o design dessas plataformas, com algoritmos que priorizam o engajamento acima da veracidade, contribui para o agravamento do problema. Ao mostrar ao usuário apenas conteúdos com os quais ele já concorda ou que geram reações emocionais intensas, o ambiente digital acaba favorecendo a polarização e a propagação de boatos.
Essa lógica tem sido constantemente criticada por pesquisadores, jornalistas, organizações da sociedade civil e autoridades. Em diversos países, propostas de regulação têm ganhado força, com o objetivo de responsabilizar as empresas de tecnologia pelos danos sociais causados por seus produtos.
Contradição: desconfiança alta, mas uso permanece elevado
Um dos dados mais intrigantes da pesquisa é que, mesmo com mais da metade da população declarando não confiar nas redes sociais, essas plataformas continuam sendo as mais utilizadas como fonte primária de informação por milhões de brasileiros. Isso revela um paradoxo presente na cultura digital: a crítica à qualidade do conteúdo não impede a adesão ao ambiente.
Muitos usuários, mesmo cientes das limitações e dos riscos, não encontram alternativas mais acessíveis ou rápidas para se manterem informados. A facilidade de acesso via celular, a gratuidade dos serviços e a velocidade com que as notícias circulam ainda colocam as redes à frente dos meios tradicionais em termos de consumo diário de informação.
No entanto, essa dependência combinada com a desconfiança generalizada gera efeitos psicológicos e sociais preocupantes: aumento da ansiedade, sensação de insegurança, confusão sobre os fatos e retração na participação em debates públicos online. A qualidade da informação se torna, assim, uma preocupação central para os que buscam melhorar o ambiente democrático.
Desinformação como desafio nacional
A proliferação de conteúdos falsos nas redes sociais se tornou um dos principais desafios para instituições públicas, imprensa e sociedade civil. As campanhas de desinformação, muitas vezes articuladas com interesses políticos ou econômicos, têm impactado o debate público, alimentado discursos extremistas e afetado diretamente decisões da população.
Casos recentes envolvendo eleições, vacinação, mudanças climáticas, segurança pública e temas culturais mostraram como as redes sociais podem funcionar como multiplicadoras de pânico, intolerância e mentiras deliberadas. O combate à desinformação, portanto, se tornou prioridade em diversas frentes.
O Brasil, inclusive, tem debatido no Congresso propostas de regulamentação das plataformas digitais. As discussões giram em torno de mecanismos que exijam maior transparência dos algoritmos, responsabilização por conteúdos criminosos e proteção dos dados dos usuários. No entanto, os projetos enfrentam resistência tanto de setores políticos quanto das próprias empresas de tecnologia.
Educação midiática como resposta possível
Diante do avanço da desinformação e da crescente desconfiança da população, especialistas têm apontado a educação midiática como uma das ferramentas mais eficazes para enfrentar o problema de forma estrutural. A ideia é que, além de medidas regulatórias, é preciso capacitar os cidadãos — desde cedo — a interpretar, analisar e questionar os conteúdos que consomem nas redes.
Projetos nesse sentido vêm sendo implementados em escolas públicas e privadas, além de iniciativas promovidas por organizações independentes, jornalistas e plataformas de checagem. A meta é formar usuários críticos, que saibam distinguir informação confiável de conteúdo manipulativo, reduzindo assim o impacto da desinformação sobre o comportamento social e político.
Considerações finais
A pesquisa da Quaest lança luz sobre uma percepção coletiva cada vez mais evidente: as redes sociais, embora parte integrante da vida moderna, estão longe de ser vistas como ambientes confiáveis pela maioria da população brasileira. O dado de que 57% dos brasileiros afirmam não confiar nessas plataformas revela uma ruptura na relação entre os usuários e os meios digitais, que há poucos anos eram vistos com entusiasmo quase incondicional.
Esse cenário exige respostas urgentes. O combate à desinformação, o fortalecimento do jornalismo profissional, a regulamentação responsável das plataformas e a ampliação da educação midiática são caminhos apontados por estudiosos e instituições comprometidas com o fortalecimento da democracia.
Ao mesmo tempo, o desafio permanece: como conciliar o uso cotidiano e quase inevitável das redes sociais com a necessidade de garantir um ambiente mais seguro, transparente e respeitoso? A resposta a essa pergunta será decisiva para o futuro da comunicação pública e da democracia no Brasil.