Hugo Motta critica falta de coordenação do Planalto na definição da liderança da comissão parlamentar que investiga irregularidades no INSS
O deputado federal Hugo Motta (Republicanos-PB) expressou de forma clara sua insatisfação com a condução política do governo federal na disputa pelo controle da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga possíveis irregularidades no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Segundo ele, houve uma falha evidente de articulação por parte do Palácio do Planalto, que não conseguiu garantir uma base sólida de apoio nem exercer influência efetiva na escolha da presidência e da relatoria do colegiado.
A declaração de Motta ocorreu em meio a uma série de movimentações intensas no Congresso Nacional, onde a instalação da CPMI do INSS gerou um embate político entre parlamentares da base governista e da oposição. A comissão tem como objetivo apurar denúncias de fraudes, desvios de recursos e má gestão em processos relacionados à concessão de benefícios previdenciários — tema sensível tanto para a sociedade quanto para o governo, que tenta retomar a imagem de eficiência na administração pública.
Para Hugo Motta, o Planalto demonstrou desorganização ao lidar com a formação da comissão, não atuando com a antecedência e a força política necessárias para assegurar os postos estratégicos. “Faltou articulação. O governo não conseguiu liderar o processo de escolha, o que compromete sua capacidade de acompanhar e influenciar o andamento dos trabalhos”, afirmou o deputado, que já ocupou posições de destaque em comissões anteriores e conhece bem os bastidores da Câmara.
O episódio é mais um exemplo das dificuldades enfrentadas pelo Executivo para consolidar uma base coesa no Congresso Nacional. Embora conte com aliados em diversas frentes, o governo frequentemente esbarra em resistências internas, disputas regionais e divergências entre partidos que, embora formalmente alinhados, mantêm interesses próprios.
A CPMI do INSS, que reúne senadores e deputados, foi instalada após crescente pressão de parlamentares diante de denúncias recorrentes sobre irregularidades em pagamentos de benefícios, aposentadorias, pensões e auxílios. Também serão investigados contratos com empresas terceirizadas, suspeitas de corrupção e lentidão deliberada nos processos administrativos.
A disputa pelo comando da comissão tornou-se um campo de prova para a força política do governo. A perda de espaço logo na origem do colegiado é vista por parlamentares experientes como um sinal de que a articulação política do Planalto precisa ser urgentemente revista, sob risco de permitir que CPIs e CPMIs se transformem em arenas de desgaste contínuo para o Executivo.
Segundo fontes da própria base, o governo chegou atrasado nas conversas sobre a composição da comissão. Enquanto opositores se organizavam rapidamente em torno de nomes com influência, o governo hesitou, demorou a apresentar alternativas viáveis e não conseguiu mobilizar os líderes partidários de maneira eficaz. Isso abriu espaço para que a oposição ocupasse posições de comando e definisse a pauta da comissão logo nos seus primeiros dias de funcionamento.
Hugo Motta não foi o único a criticar a condução política do caso. Outros deputados da base também manifestaram preocupação, ainda que em tom mais reservado, com o que consideram uma fragilidade crônica do governo na interlocução com o Legislativo. A ausência de uma coordenação política forte e de uma liderança capaz de antecipar cenários tem gerado desgaste frequente nas relações com o Congresso.
O Planalto, por sua vez, tem evitado se pronunciar oficialmente sobre o episódio. Internamente, membros da Casa Civil e da Secretaria de Relações Institucionais avaliam os danos e estudam uma reestruturação das estratégias de articulação, reconhecendo que a CPMI do INSS não é um caso isolado. Diversas comissões, relatorias e votações relevantes têm escapado do controle do governo por falta de alinhamento ou por excesso de confiança em uma base que, na prática, mostra-se muitas vezes instável.
Especialistas em política avaliam que o governo federal precisa rever sua forma de diálogo com o Congresso se quiser manter governabilidade. A condução de CPIs e CPMIs exige mais do que maioria numérica — requer alianças reais, capacidade de negociação e leitura precisa do jogo político. O fracasso em influenciar uma comissão que trata de um tema tão delicado como o INSS pode custar caro em termos de imagem pública e controle da agenda legislativa.
Enquanto isso, os trabalhos da CPMI seguem, e com um viés crítico mais acentuado ao governo. A oposição já anunciou que pretende convocar ex-dirigentes do INSS, integrantes do Ministério da Previdência e representantes de empresas contratadas para esclarecer as denúncias. Com o controle da pauta e da relatoria, o grupo oposicionista pode utilizar a comissão como plataforma de desgaste político nos meses que antecedem o próximo calendário eleitoral.
A cobrança de Hugo Motta ecoa entre muitos parlamentares que esperavam mais habilidade do Executivo na gestão dessa pauta. Para eles, o governo precisa aprender rapidamente com esse erro se quiser evitar que outras comissões se tornem focos de crise e prejudiquem a agenda do Planalto.