Empresários pressionam por crédito emergencial e flexibilização de salários para evitar demissões
A crise econômica provocada pelo tarifaço e pela desaceleração de setores-chave da indústria e do comércio reacendeu uma discussão antiga entre empresários e governo: como manter empregos em meio a um cenário de queda na atividade? Entidades patronais e associações representativas de diferentes segmentos vêm defendendo medidas emergenciais que combinam liberação rápida de crédito subsidiado e flexibilização temporária da folha de pagamento, com possibilidade de corte proporcional de salários e jornada de trabalho.
Crédito como oxigênio imediato
A principal queixa do setor produtivo é a dificuldade de acesso a financiamento. Mesmo com anúncios recentes do governo de linhas especiais, empresários alegam que os bancos públicos e privados seguem impondo burocracias, travando a liberação de recursos em um momento em que muitas empresas já operam no vermelho. O pleito é por mecanismos semelhantes aos criados na pandemia, em que o dinheiro chegava de forma mais ágil às empresas com contrapartida na manutenção de empregos.
Para os empresários, a demora no crédito pode gerar um efeito dominó de falências em pequenas e médias companhias, justamente as que mais empregam. Isso já se reflete em setores como têxtil, calçadista, metalúrgico e transporte, que têm registrado queda expressiva nas encomendas após a alta nos custos de exportação e insumos.
Redução de salários com preservação de postos
Outro ponto defendido é a possibilidade de replicar modelos de suspensão parcial de contratos ou corte proporcional de salários, como ocorreu em 2020, com parte da renda sendo compensada pelo governo. A justificativa é que muitas empresas preferem reduzir custos temporariamente do que optar pela demissão em massa, que além de socialmente danosa, pode significar perda de mão de obra qualificada difícil de repor no futuro.
As centrais sindicais, no entanto, veem a proposta com cautela. Embora reconheçam o risco de desemprego, temem que a medida seja usada como desculpa para reduzir direitos trabalhistas. Por isso, defendem que qualquer flexibilização venha acompanhada de garantias de estabilidade, fiscalização e participação das entidades nas negociações.
Governo em posição delicada
Para o Executivo, a equação é complexa. De um lado, há pressão dos empresários para medidas mais ousadas; de outro, o risco fiscal e a resistência política em ampliar gastos em pleno ano de ajuste das contas públicas. Integrantes da equipe econômica reconhecem a necessidade de agir, mas defendem que o esforço seja focado em setores mais atingidos e em empresas que comprovem queda real no faturamento.
Enquanto o debate avança, o risco imediato é o aumento do desemprego já nos próximos meses. Para especialistas em mercado de trabalho, a adoção de crédito emergencial e de um modelo transitório de compensação salarial poderia dar fôlego para a travessia do período mais crítico da crise. Sem essas medidas, avaliam, a retração pode deixar marcas mais profundas na economia brasileira.