Banco de fomento destina R$ 10 bilhões adicionais a companhias fora do alcance das novas tarifas
Em um movimento que surpreendeu parte do mercado, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) anunciou a liberação de um volume adicional de R$ 10 bilhões em crédito voltado a empresas que não foram impactadas diretamente pelo chamado “tarifaço” — o pacote de reajustes tributários e regulatórios adotado recentemente pelo governo federal em setores estratégicos. A decisão marca um reposicionamento do banco de fomento, que agora busca ampliar o apoio a companhias com potencial de crescimento, mas que não se enquadram entre as afetadas pela reestruturação tarifária.
A iniciativa faz parte de uma estratégia mais ampla da instituição, que procura garantir o dinamismo econômico em áreas que não foram cobertas pelas políticas de compensação anunciadas anteriormente. Segundo o BNDES, o montante extra será disponibilizado por meio de linhas já existentes, com condições facilitadas, e terá foco em empresas médias e grandes que operam em segmentos considerados prioritários para a retomada da atividade econômica nacional.
De acordo com a diretoria do banco, a medida tem caráter anticíclico: busca estimular o investimento e a geração de empregos em setores que, embora não impactados negativamente pelo tarifaço, enfrentam um cenário de incerteza e desaceleração. “Nosso papel é agir com equilíbrio, apoiando tanto quem sofreu os efeitos diretos da medida quanto quem pode puxar o crescimento nos próximos meses”, afirmou uma fonte da instituição.
O pacote de apoio adicional inclui prazos estendidos para amortização, taxas de juros subsidiadas em determinados projetos e estímulos para inovação, digitalização e transição energética. O BNDES também pretende direcionar parte dos recursos para iniciativas regionais e cadeias produtivas com forte efeito multiplicador sobre a economia.
Entre os setores elegíveis estão indústrias de base, infraestrutura, agroindústria, tecnologia e energias renováveis. A seleção das empresas contempladas obedecerá critérios técnicos, levando em conta a solidez financeira, o plano de negócios e a capacidade de impacto socioeconômico de cada projeto apresentado.
A decisão do BNDES ocorre paralelamente à implementação das medidas do tarifaço, que atingiram principalmente segmentos como combustíveis, energia elétrica, produtos importados e determinados bens de consumo. Para essas áreas, o governo já havia anunciado mecanismos compensatórios, como subsídios parciais e parcelamento tributário. No entanto, muitas companhias de setores adjacentes ou indiretamente afetadas ficaram fora do escopo de ajuda inicial.
Com a nova liberação, o banco tenta cobrir essas lacunas e evitar uma desaceleração mais ampla da economia. A expectativa é que os recursos ajudem a preservar investimentos planejados, evitar cortes de empregos e manter em funcionamento projetos estruturantes de longo prazo.
Especialistas avaliam que a medida tem potencial positivo, embora exija acompanhamento rigoroso para evitar distorções. “É uma sinalização de que o banco não está focando apenas em quem foi diretamente impactado, mas também em quem pode contribuir para sustentar o crescimento, mesmo em meio a um ambiente de aperto fiscal e elevação de custos”, comenta um economista do setor financeiro.
Representantes da indústria e do agronegócio receberam bem o anúncio. Associações empresariais destacaram que o crédito é essencial para manter o fôlego dos negócios, sobretudo diante das incertezas provocadas por mudanças regulatórias e por oscilações no mercado internacional. Alguns setores, porém, pedem mais clareza sobre os critérios de acesso aos recursos e agilidade na liberação das linhas de crédito.
Internamente, o BNDES reforça que os processos serão simplificados e que a nova política é parte de um esforço maior de reposicionamento estratégico da instituição. A ideia é tornar o banco mais responsivo às necessidades reais da economia produtiva, sem abrir mão da sustentabilidade fiscal nem da responsabilidade social.
Com a iniciativa, o BNDES se alinha ao objetivo do governo de mitigar os efeitos colaterais das medidas de ajuste e, ao mesmo tempo, impulsionar a atividade econômica de forma seletiva. A liberação dos R$ 10 bilhões deve começar nas próximas semanas, com editais e orientações específicas a serem publicados para orientar empresas interessadas em acessar os novos recursos.