Chefe do órgão de inteligência financeira aponta entraves no combate à lavagem de dinheiro e anuncia mudanças estruturais
Durante uma palestra realizada nesta semana em evento voltado à governança pública e integridade financeira, o presidente do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), Ricardo Liáo, apresentou um diagnóstico detalhado dos principais obstáculos enfrentados pelo órgão no enfrentamento à criminalidade econômica, com destaque para a lavagem de dinheiro e o financiamento de atividades ilícitas. Ao mesmo tempo, anunciou que uma série de reformas internas está em fase de elaboração para fortalecer a atuação do Coaf nos próximos anos.
A fala do presidente ocorreu diante de uma plateia composta por autoridades do sistema judiciário, membros do Ministério Público, representantes da sociedade civil e especialistas em finanças públicas. Ricardo Liáo iniciou sua exposição destacando o papel estratégico do Coaf na prevenção de crimes financeiros, ressaltando que o órgão atua na produção e disseminação de informações relevantes para investigações e processos judiciais, servindo como elo entre o sistema financeiro e os órgãos de persecução penal.
Entre os desafios mais relevantes apresentados, o presidente do Coaf destacou a crescente sofisticação dos mecanismos utilizados por organizações criminosas para ocultar a origem de recursos ilegais. Ele mencionou que a globalização dos fluxos financeiros, o uso de criptomoedas, estruturas empresariais complexas e a atuação de intermediários profissionais dificultam a identificação das operações suspeitas. Além disso, ressaltou que o volume de informações processadas diariamente pelo sistema exige ferramentas cada vez mais robustas de análise e inteligência artificial.
Outro ponto sensível abordado na palestra foi a carência de recursos técnicos e humanos. Segundo Liáo, embora o órgão tenha avançado em sua estrutura nos últimos anos, ainda há uma defasagem entre a crescente demanda por ações de monitoramento financeiro e a capacidade operacional do conselho. Ele destacou a importância de investimentos contínuos em tecnologia, capacitação de servidores e ampliação de parcerias com outros órgãos nacionais e internacionais.
Em resposta a essas dificuldades, o presidente do Coaf anunciou que está em andamento uma agenda de reformas institucionais. Entre as propostas em discussão estão a modernização dos sistemas de análise de dados, a criação de uma unidade dedicada exclusivamente a novas tecnologias financeiras, a ampliação da transparência dos relatórios de inteligência e a revisão de protocolos de cooperação com órgãos fiscalizadores, como Receita Federal, Banco Central, Polícia Federal e Ministério Público.
Ricardo Liáo também frisou que o Coaf busca reforçar sua independência técnica, atuando com autonomia em relação a pressões políticas ou interesses externos. Ele lembrou que, após períodos de instabilidade institucional em gestões anteriores, o conselho tem como meta reconquistar plenamente a confiança da sociedade e consolidar sua função como pilar essencial da arquitetura de combate à corrupção e à lavagem de dinheiro no país.
A fala do presidente repercutiu positivamente entre os participantes do evento, que viram nas propostas um sinal de comprometimento com o aprimoramento do sistema de controle financeiro nacional. Representantes de entidades da sociedade civil destacaram a importância de o Coaf manter vigilância constante sobre grandes movimentações suspeitas, especialmente em áreas sensíveis como o financiamento de campanhas políticas, evasão de divisas, crimes ambientais e operações do crime organizado.
O Coaf, que integra o sistema brasileiro de prevenção à lavagem de dinheiro e ao financiamento do terrorismo, é responsável por receber, examinar e identificar ocorrências suspeitas de atividades ilícitas comunicadas por instituições financeiras, corretoras, empresas e outras entidades obrigadas por lei a prestar informações ao conselho.
Com as reformas anunciadas, o órgão pretende não apenas aprimorar sua capacidade de resposta, mas também tornar-se um centro de excelência em inteligência financeira na América Latina. Para isso, o Coaf busca fortalecer sua atuação com base em três pilares principais: tecnologia, transparência e integração institucional.
A expectativa, segundo Ricardo Liáo, é que até o final de 2025 o conselho esteja operando com uma estrutura significativamente mais preparada para lidar com os desafios do século XXI, contribuindo de maneira decisiva para a integridade do sistema financeiro nacional e para o fortalecimento da democracia e da justiça econômica no Brasil.