Mourão descarta possibilidade de ação militar em meio a impasse diplomático entre EUA e Venezuela
Em meio ao endurecimento das relações entre os Estados Unidos e a Venezuela, autoridades brasileiras acompanham de perto os desdobramentos na região. Apesar do clima de tensão crescente, representantes do alto escalão do governo brasileiro descartam, neste momento, a possibilidade de uma intervenção militar externa no país vizinho.
O então vice-presidente do Brasil, general Hamilton Mourão, conhecido por sua experiência militar e posicionamentos cautelosos em temas de política internacional, declarou publicamente que não enxerga risco iminente de uma ação armada por parte dos Estados Unidos contra o governo venezuelano. A fala ocorreu num contexto de especulações crescentes sobre os rumos da política externa americana, especialmente durante períodos de instabilidade na América Latina.
Crise prolongada e impasses diplomáticos
A Venezuela enfrenta há anos uma crise multidimensional que envolve colapso econômico, instabilidade institucional, migração em massa e denúncias de violações de direitos humanos. As sanções econômicas impostas pelos EUA, além do não reconhecimento de Nicolás Maduro por parte de vários governos ocidentais, intensificaram o isolamento diplomático do país.
Esse cenário levou a um impasse que se arrasta desde 2019, quando Juan Guaidó se autoproclamou presidente interino, com apoio de Washington e de diversas nações, incluindo o Brasil à época. A disputa de legitimidade entre os dois líderes provocou um acirramento na política regional e ampliou o risco de ações mais drásticas no tabuleiro geopolítico.
No entanto, até agora, as pressões externas têm se mantido no campo diplomático, com retaliações econômicas, sanções individuais e tentativas de negociação mediadas por organismos internacionais.
Postura do Brasil: observação cautelosa e neutralidade relativa
O Brasil, que compartilha uma longa fronteira com a Venezuela e tem lidado com o impacto direto da crise migratória, optou por uma postura que combina preocupação humanitária com cautela política. Embora o país tenha criticado abertamente o regime chavista em momentos anteriores, sobretudo durante a gestão anterior, também evitou qualquer tipo de apoio a ações militares estrangeiras no território venezuelano.
Hamilton Mourão, com histórico de atuação na Amazônia e profundo conhecimento das dinâmicas fronteiriças, sempre destacou a importância da estabilidade regional e da não intervenção. Segundo ele, uma ação militar poderia desencadear consequências imprevisíveis, inclusive para o Brasil, que já enfrenta desafios logísticos, humanitários e de segurança na região de Roraima, principal porta de entrada de imigrantes venezuelanos.
Contexto internacional e limites da pressão americana
Durante a administração Trump, os Estados Unidos intensificaram a retórica contra o governo Maduro, chegando a levantar publicamente a hipótese de uma intervenção. Contudo, o discurso nunca se traduziu em ações concretas nesse sentido, o que levou analistas a interpretar essas declarações como parte de uma estratégia de pressão e isolamento, e não como um plano militar efetivo.
Com a chegada de novas administrações, tanto em Washington quanto em outros países da região, a abordagem parece ter se deslocado novamente para a diplomacia multilateral, com maior envolvimento da ONU e da Organização dos Estados Americanos (OEA) em tentativas de mediação.
A migração como fator regional de pressão
Outro aspecto que preocupa os países vizinhos é o fluxo contínuo de venezuelanos que deixam o país em busca de melhores condições de vida. Estima-se que mais de 7 milhões de pessoas já tenham migrado desde o início da crise, constituindo uma das maiores movimentações populacionais da história recente da América Latina.
O Brasil tem sido um dos destinos mais acessíveis, o que impôs à União e aos estados fronteiriços um esforço significativo de acolhimento, registro, integração e assistência humanitária. Mourão, ao longo de sua trajetória no governo, defendeu o fortalecimento de programas como a Operação Acolhida, conduzida pelas Forças Armadas com apoio de agências internacionais.
Cenário de instabilidade permanece, mas sem sinais de ação militar
Apesar da persistente deterioração das condições internas na Venezuela e do endurecimento de posturas por parte de algumas potências internacionais, o consenso entre especialistas e autoridades brasileiras é de que o caminho para a resolução da crise ainda deve passar pelo diálogo diplomático e por pressões econômicas e políticas, e não por confrontos armados.
A fala de Mourão, ao minimizar o risco de intervenção, reflete essa leitura predominante: de que, embora a situação seja delicada, os custos de uma ação militar seriam altos demais para justificar tal medida, tanto para os Estados Unidos quanto para os países vizinhos, que teriam de lidar com os efeitos colaterais de uma eventual escalada militar na região.
O futuro da crise venezuelana continua em aberto, mas com a certeza de que o Brasil, ao menos por enquanto, manterá sua posição de vigilância e atuação diplomática, evitando qualquer envolvimento em ações unilaterais ou intervenções forçadas.