Estratégia emergencial do governo para conter efeitos do tarifaço inclui parcerias comerciais com Índia e Canadá
Em uma tentativa de amenizar os impactos do forte aumento de tarifas em setores estratégicos da economia nacional, o governo federal revelou que está apostando em novos acordos comerciais com Índia e Canadá como parte do plano de contingência. A iniciativa faz parte de uma estratégia mais ampla para diversificar fontes de insumos, reduzir custos operacionais e fortalecer o setor produtivo diante do chamado “tarifaço”.
A alta significativa nos preços de energia, combustíveis e insumos básicos tem pressionado empresas de diversos portes e setores em todo o país. Diante desse cenário, a administração federal tem buscado alternativas fora do território nacional para garantir o abastecimento de matérias-primas a preços mais competitivos. Índia e Canadá surgem como parceiros estratégicos nesse movimento, por suas capacidades produtivas, complementaridades econômicas e disposição para ampliar relações comerciais com o Brasil.
De acordo com interlocutores do Ministério da Indústria, Comércio e Serviços, as tratativas com os dois países já estão em estágio avançado e envolvem desde acordos de facilitação de comércio até possíveis ajustes tarifários bilaterais em produtos-chave. Com a Índia, por exemplo, o foco está em produtos químicos, fertilizantes, medicamentos genéricos e componentes industriais — setores nos quais o país asiático tem grande capacidade de produção e preços competitivos. Já com o Canadá, as conversas se concentram em energia limpa, tecnologias de transporte e insumos agrícolas.
O governo brasileiro vê nessas parcerias uma oportunidade de aliviar a pressão sobre os custos internos, ao mesmo tempo em que fortalece relações diplomáticas e abre portas para um comércio mais equilibrado e menos dependente de mercados tradicionalmente dominantes. As medidas fazem parte de um plano emergencial que vai além de subsídios e créditos internos: a ideia é reposicionar o Brasil no cenário internacional como um ator flexível, capaz de encontrar soluções em meio às adversidades econômicas.
O plano de contingência também inclui dispositivos de estímulo à produção nacional, mas o Executivo reconhece que nem todos os problemas podem ser resolvidos apenas com políticas internas. O encarecimento de insumos e energia exige alternativas rápidas, e os acordos com Índia e Canadá aparecem como soluções viáveis de curto e médio prazo. Além disso, as negociações incluem cláusulas de cooperação tecnológica e transferência de conhecimento em setores de interesse estratégico, o que pode gerar ganhos para a indústria nacional a longo prazo.
Representantes do setor produtivo vêm acompanhando de perto os desdobramentos e, em muitos casos, pressionando o governo por mais agilidade. Grandes conglomerados da indústria de transformação, agroindústria e setor químico apoiam a abertura de mercados e destacam que o custo Brasil — amplificado pelo tarifaço — tem exigido iniciativas ousadas para manter a competitividade. Pequenas e médias empresas, por sua vez, esperam que os efeitos positivos desses acordos cheguem em forma de redução de preços e maior acesso a insumos essenciais.
Do ponto de vista diplomático, o momento é considerado oportuno. Tanto Índia quanto Canadá demonstraram interesse em ampliar laços comerciais com o Brasil, inclusive em fóruns multilaterais. A Índia, em especial, tem aprofundado sua presença em países da América Latina como forma de diversificar suas exportações e ampliar sua influência global. Já o Canadá busca expandir seu comércio com economias emergentes que compartilham compromissos com temas como sustentabilidade e inovação.
No contexto do tarifaço, essas negociações ganham peso político e simbólico. O governo quer mostrar que está buscando alternativas pragmáticas, e não apenas medidas paliativas de curto prazo. A aposta em acordos internacionais como saída para uma crise interna reflete uma estratégia de governo que visa equilíbrio entre ação imediata e transformação estrutural.
Embora os acordos ainda estejam em fase de construção, há expectativa de que os primeiros resultados comecem a aparecer nos próximos meses, seja por meio da redução de preços em determinadas cadeias produtivas, seja pela ampliação da oferta de insumos críticos. O Executivo também não descarta ampliar a estratégia para incluir outros países, caso as negociações com Índia e Canadá se mostrem eficazes.
Para os analistas do setor de comércio exterior, a iniciativa representa uma mudança de postura em relação a ciclos anteriores, nos quais o foco era majoritariamente interno. Agora, ao utilizar instrumentos diplomáticos como parte do plano de contingência, o governo reforça sua intenção de reposicionar o Brasil como parceiro comercial estratégico e menos vulnerável a choques internos de custo.
Com essa abordagem multifacetada — que inclui apoio financeiro, postergação de tributos, condicionamento ao emprego e ampliação de parcerias internacionais — o plano de contingência contra o tarifaço se consolida como uma das respostas mais abrangentes apresentadas pelo governo até aqui. O sucesso, no entanto, dependerá não apenas da execução eficiente das medidas, mas também da velocidade com que os efeitos concretos forem sentidos por empresas e consumidores.