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Vale Tudo: a evolução de uma cena icônica que marcou gerações na TV brasileira

Desde que a Globo anunciou o remake de Vale Tudo, um dos maiores clássicos da teledramaturgia brasileira, muitos fãs se perguntavam como seriam recriadas algumas das cenas mais emblemáticas da versão original de 1988. Entre elas, uma sequência em especial gerou enorme expectativa: a da maionese contaminada, um momento decisivo na trama que sintetiza os conflitos de classe, ética e ambição presentes em toda a novela.

Na versão original, exibida há mais de três décadas, a personagem Maria de Fátima, vivida por Glória Pires, serve maionese estragada em um jantar sofisticado oferecido à alta sociedade carioca. A cena, além de tensa, foi um marco do roteiro de Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères, refletindo a ascensão social a qualquer custo e a manipulação como ferramenta de sobrevivência. Com uma interpretação marcante de Glória, a sequência ficou eternizada como símbolo da hipocrisia da elite e da frieza calculada da protagonista.

Já no remake de 2024, escrito por Manuela Dias, a mesma cena foi reimaginada com nuances contemporâneas, adaptando o contexto para um público mais atual, mas sem perder a força dramática do momento. A nova Maria de Fátima, interpretada por Sophie Charlotte, traz uma versão mais polida da personagem, mas igualmente ambiciosa e implacável. A cena da maionese foi cuidadosamente recriada: a tensão entre os convidados, o desconforto progressivo e, finalmente, a revelação do alimento contaminado foram conduzidos com uma estética mais cinematográfica, com direito a cortes mais rápidos, luz dramática e trilha sonora sutil, mas impactante.

Diferentemente da versão de 1988, onde a sequência era mais teatral, quase uma encenação clássica da dramaturgia da época, o remake aposta em uma abordagem mais realista. A direção optou por planos fechados nos rostos dos convidados, captando o nojo e o choque diante da situação. Ao mesmo tempo, o roteiro reforça o cinismo de Maria de Fátima, que se mantém impassível diante do caos — uma releitura que honra a personagem original, mas atualiza seu comportamento para os tempos modernos.

Um detalhe interessante nas duas versões é o uso da comida como metáfora. A maionese, tradicionalmente associada a luxo e requinte em jantares da elite, torna-se um símbolo da podridão moral que permeia as relações sociais na trama. Nos dois momentos, o alimento contaminado revela mais do que um erro culinário: expõe a face oculta da busca por status, evidenciando a falsidade e o desprezo pelo outro, pilares centrais de Vale Tudo.

A recepção do público também reforça o impacto da sequência. Em 1988, a cena gerou grande repercussão, com discussões acaloradas em jornais e rodas de conversa. Já em 2024, mesmo com o público fragmentado pelas redes sociais e o streaming, o episódio rapidamente viralizou, sendo comentado amplamente no X (antigo Twitter), no Instagram e em podcasts especializados em televisão. Muitos usuários fizeram comparações entre as atuações de Glória Pires e Sophie Charlotte, destacando que, embora diferentes em estilo, ambas conseguiram imprimir uma personalidade forte e inesquecível à personagem.

Ao revisitar a maionese estragada, o remake de Vale Tudo prova que certos elementos narrativos resistem ao tempo e ganham novos significados quando adaptados com sensibilidade e inteligência. Mais do que uma simples recriação, a nova cena reafirma o lugar da novela como um espelho da sociedade brasileira — ontem e hoje — onde valores, corrupção, ambição e aparência continuam sendo ingredientes de uma receita que, quando mal misturada, pode facilmente azedar.

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