Potencial biológico brasileiro pode movimentar até 140 bilhões de dólares anuais com desenvolvimento sustentável baseado em bioeconomia
O Brasil, país com uma das maiores biodiversidades do mundo, está posicionado para transformar sua riqueza natural em fonte sustentável de crescimento econômico. De acordo com estudos e projeções de especialistas em desenvolvimento, ciência e inovação, a bioeconomia nacional tem capacidade para gerar até 140 bilhões de dólares por ano, caso políticas públicas e incentivos privados estejam alinhados com uma estratégia nacional de valorização dos recursos biológicos renováveis.
Esse número impressionante, porém, depende de uma série de fatores que envolvem não apenas o aproveitamento racional da biodiversidade, mas também o fortalecimento da bioindústria, a preservação dos biomas, o reconhecimento do conhecimento tradicional e o avanço em ciência e tecnologia aplicada.
O que impulsiona esse valor?
A bioeconomia, conceito que une sustentabilidade ambiental à inovação industrial e científica, baseia-se no uso responsável e renovável dos recursos naturais para criar produtos de alto valor agregado. Isso inclui desde cosméticos e medicamentos até biocombustíveis, biofertilizantes, alimentos funcionais e materiais biodegradáveis.
No Brasil, a diversidade de plantas, microrganismos e compostos naturais presentes nos biomas como Amazônia, Cerrado e Mata Atlântica representa uma fonte inesgotável de oportunidades. Além disso, comunidades tradicionais e povos indígenas detêm conhecimentos milenares sobre o uso sustentável desses recursos, o que pode se traduzir em inovação social e repartição justa de benefícios.
Segundo as projeções, o montante de até 140 bilhões de dólares ao ano considera o pleno funcionamento de cadeias produtivas em todos os setores da bioeconomia, com destaque para:
- Bioenergia e biocombustíveis avançados, como etanol de segunda geração e hidrogênio verde;
- Biofármacos e insumos para a indústria farmacêutica, derivados de compostos naturais ainda não explorados;
- Biotecnologia para agricultura, com uso de bioinsumos e agentes naturais no lugar de produtos químicos;
- Alimentos e ingredientes naturais, com foco em saudabilidade, funcionalidade e rastreabilidade;
- Produtos florestais não madeireiros, como óleos, resinas, fibras e extratos.
Desafios estruturais para alcançar esse valor
Apesar do potencial, o Brasil ainda enfrenta obstáculos que dificultam a consolidação de uma bioeconomia sólida e de largo alcance. Entre os principais desafios estão:
- Ausência de uma estratégia nacional integrada, com metas e indicadores claros;
- Deficiências em infraestrutura logística e industrial nas regiões com mais biodiversidade;
- Insegurança jurídica sobre acesso a recursos genéticos e repartição de benefícios;
- Baixo investimento em pesquisa aplicada e inovação biotecnológica;
- Falta de incentivos fiscais e regulatórios para cadeias produtivas sustentáveis.
Especialistas apontam que o desenvolvimento da bioeconomia precisa ser encarado como um projeto de Estado, com envolvimento de diversas áreas: meio ambiente, ciência e tecnologia, desenvolvimento regional, saúde, agricultura e indústria. A articulação entre governo, empresas, universidades e comunidades tradicionais é essencial para transformar conhecimento e biodiversidade em valor econômico com responsabilidade socioambiental.
Oportunidade para inclusão social e desenvolvimento regional
Um dos aspectos mais relevantes do avanço da bioeconomia brasileira está no seu potencial de inclusão. Ao contrário de setores tradicionais da indústria, que concentram riquezas em poucas regiões, a bioeconomia pode gerar desenvolvimento descentralizado, especialmente em áreas remotas da Amazônia e do interior do país.
Comunidades locais podem atuar na coleta de matérias-primas, no beneficiamento inicial e até em cooperativas de produção, desde que sejam respeitados seus direitos e valorizados seus saberes. O fortalecimento da bioeconomia também pode estimular a preservação ambiental como atividade econômica viável, reduzindo o desmatamento e a exploração predatória.
Além disso, o setor pode gerar milhões de empregos verdes — formais e informais — ao longo de cadeias sustentáveis de produção e inovação. Trata-se de uma nova visão de progresso que alia responsabilidade ambiental, justiça social e crescimento econômico.
Caminho para uma liderança internacional
Se conseguir desenvolver seu potencial na bioeconomia, o Brasil poderá se tornar referência mundial no fornecimento de produtos sustentáveis, em um contexto global onde consumidores, empresas e governos buscam alternativas ecológicas para substituir produtos fósseis e poluentes.
O país já possui experiência relevante em biocombustíveis, especialmente com o etanol de cana-de-açúcar, mas agora precisa expandir seu protagonismo para novos setores da bioeconomia — como biofármacos, bioplásticos, ingredientes naturais e tecnologias baseadas em bioprocessos.
A valorização internacional da biodiversidade brasileira pode, inclusive, reforçar a imagem do Brasil como líder climático e parceiro estratégico em acordos multilaterais voltados para o meio ambiente, desenvolvimento sustentável e comércio verde.
Resumo dos principais pontos:
Tópico | Detalhes |
---|---|
Potencial econômico | A bioeconomia pode movimentar até US$ 140 bilhões por ano com cadeias produtivas ativas. |
Biomas e biodiversidade | Riqueza natural oferece matéria-prima para biotecnologia, saúde, energia e alimentos. |
Desenvolvimento inclusivo | O setor pode gerar empregos e renda em regiões remotas e comunidades tradicionais. |
Desafios a superar | É necessário investir em pesquisa, infraestrutura, legislação e governança integrada. |
Rumo ao protagonismo global | O Brasil pode se tornar líder mundial na oferta de produtos sustentáveis de alta qualidade. |
A bioeconomia representa não apenas uma nova fronteira econômica para o Brasil, mas também uma alternativa concreta de desenvolvimento que une ciência, floresta em pé, inovação e inclusão social. Com vontade política, investimentos certos e respeito à diversidade cultural e biológica, o país pode transformar seu patrimônio natural em riqueza duradoura — para si e para o planeta.