Polícia Federal revela que ‘Abin paralela’ operava célula especializada em fake news
A Polícia Federal identificou a existência de um núcleo específico dentro da chamada “Abin paralela”, estrutura clandestina de espionagem criada durante o governo de Jair Bolsonaro, com a função de produzir, disseminar e coordenar a circulação de notícias falsas nas redes sociais e na imprensa digital.
Esse braço operava em articulação direta com o chamado “gabinete do ódio”, núcleo de assessores ligados à família Bolsonaro que atuavam estrategicamente nas redes sociais, segundo investigações já realizadas em outras frentes. A nova descoberta reforça a tese de que havia uma organização estruturada para usar o aparato estatal em benefício político, especialmente com a finalidade de atacar adversários, deslegitimar instituições e manipular a opinião pública.
Uma fábrica de desinformação
De acordo com as informações da PF, o grupo utilizava dados capturados ilegalmente por meio de softwares de espionagem, como o sistema israelense FirstMile, para compor dossiês, criar narrativas falsas e alimentar portais de extrema direita. Essas informações, segundo os investigadores, eram editadas para parecerem verídicas e publicadas com o objetivo de criar pânico moral, desconfiança nas urnas eletrônicas, e enfraquecer decisões do Supremo Tribunal Federal.
O núcleo também é apontado como responsável por organizar ataques coordenados à honra de ministros do STF, parlamentares, jornalistas, e servidores públicos contrários aos interesses do grupo político.
Operação e alcance
A célula de desinformação operava a partir de gabinetes públicos, especialmente na sede da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e no Palácio do Planalto, durante o governo anterior. Os envolvidos usavam redes de perfis falsos e robôs para impulsionar conteúdos e manipular algoritmos de plataformas como Twitter, Facebook e WhatsApp.
Além disso, contratos com agências de marketing digital suspeitas de envolvimento com financiamento oculto também são investigados. A PF apura se houve pagamento por meio de caixa dois ou com recursos desviados de outras áreas do governo.
Envolvidos e próximos passos
Entre os citados, estão ex-assessores da Presidência, membros da Abin, militares da ativa e da reserva, além de políticos aliados. Carlos Bolsonaro, vereador do Rio de Janeiro e apontado como coordenador do gabinete digital da família, é um dos principais alvos do inquérito.
A investigação agora segue para o Supremo Tribunal Federal, que deverá avaliar os pedidos de novas quebras de sigilo, além da possibilidade de incluir mais nomes entre os indiciados. A Procuradoria-Geral da República deve se manifestar nas próximas semanas sobre eventual denúncia formal.
Repercussão
A revelação de que havia uma célula organizada para produzir fake news dentro de uma agência de inteligência do Estado gerou forte reação entre parlamentares, juristas e membros do Judiciário. A oposição fala em crime de responsabilidade e cobra punições severas. Já aliados de Bolsonaro alegam perseguição política e negam as acusações.
O caso, que já é considerado um dos mais graves episódios de instrumentalização de instituições públicas na história democrática do país, pode ter desdobramentos com impacto direto no cenário eleitoral e jurídico de 2026.
Se quiser, posso montar uma linha do tempo dos principais eventos ligados à Abin paralela ou fazer uma projeção dos próximos passos jurídicos.