Bolsonaro ainda não foi formalmente indiciado pela PF no caso da ‘Abin paralela’
Embora as investigações da Polícia Federal tenham apontado a existência de uma rede clandestina de espionagem dentro da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) — conhecida como “Abin paralela” —, o ex-presidente Jair Bolsonaro ainda não recebeu um indiciamento formal por esse esquema. O relatório final da PF aponta participação de mais de 30 pessoas, entre elas o ex-diretor Alexandre Ramagem e o vereador Carlos Bolsonaro, mas, até o momento, Bolsonaro não foi incluído entre os indiciados.
Um sistema de espionagem alardeado
Segundo a investigação, o software First Mile foi utilizado para monitorar celulares e computadores de autoridades do Supremo Tribunal Federal, políticos, jornalistas e ativistas. As informações obtidas teriam sido usadas para benefício da família Bolsonaro e para alimentar uma estratégia de desinformação durante e após o mandato.
Proteção a membros da família, investigações sobre adversários e ações de “contrainteligência” foram algumas das práticas atribuídas à Abin paralela. Além disso, foi identificada ligação entre o esquema e tentativas de obstruir apurações criminais envolvendo filhos de Bolsonaro.
Onde está Bolsonaro na trama?
Mesmo com citações que apontam que Bolsonaro estava “ciente” e se beneficiou da Abin paralela, a PF ainda não o indiciou formalmente. A expectativa é de que o relatório final seja enviado ao Supremo Tribunal Federal, que analisará se há elementos suficientes para incluir Bolsonaro e outros nomes relacionados.
Enquanto isso, Ramagem — apontado como principal operador do esquema — já foi indiciado, assim como Carlos Bolsonaro, ex-chefe da estratégia digital da família. O atual diretor da Abin também enfrenta acusações de obstrução.
Possíveis desdobramentos
Se o STF e a Procuradoria decidirem que há consistência nas provas, Bolsonaro poderá ser formalmente acusado em breve. Isso representaria um agravamento substancial para o ex-presidente, que já responde a diversas investigações, incluindo a apuração sobre tentativa de golpe após a eleição de 2022.
A eventual inclusão de Bolsonaro formalizaria a acusação de liderar uma organização criminosa que utilizou órgãos públicos para uso político pessoal e fomento de campanhas de difamação. Mas até que isso ocorra, ele permanece entre os investigados — não entre os indiciados.
O significado da distinção
A diferença entre “investigado” e “indiciado” é crucial. A inclusão como indiciado implica reconhecimento formal de indícios de autoria e participação em crime, o que pode levar à abertura de ação judicial. Bolsonaro segue com o status inicial, esperando a conclusão dos trâmites.
Apesar das evidências levantadas, o processo ainda requer análise jurídica aprofundada quanto à responsabilidade direta do ex-presidente. A decisão caberá à Justiça, a partir da tramitação no STF.