Mundial começa com torcedores temendo deportação direta do estádio
O Mundial de Clubes começou nos Estados Unidos sob um clima de apreensão e insegurança entre torcedores imigrantes, especialmente aqueles em situação irregular. Em vez de celebração, o pontapé inicial da competição foi marcado pelo medo real de que o comparecimento aos estádios possa resultar em detenções e até deportações imediatas.
A tensão ganhou força após anúncios de que agentes do Departamento de Imigração e Alfândega dos EUA (ICE) e da Patrulha de Fronteira (CBP) estariam fortemente presentes nas arenas esportivas, não apenas para garantir a segurança do evento, mas também como parte de uma “vigilância ampliada” de estrangeiros. O que seria um reforço comum de policiamento em eventos de grande porte, desta vez foi interpretado por muitos como um gesto de intimidação.
O receio não surgiu do nada. Postagens feitas por autoridades federais em redes sociais, posteriormente deletadas, chegaram a afirmar que os agentes estariam “suited and booted” — ou seja, armados, uniformizados e prontos para atuação ostensiva dentro e fora dos estádios. Isso provocou uma onda de temor entre torcedores latinos, africanos e asiáticos, muitos dos quais preferiram cancelar sua ida aos jogos, vender ingressos ou buscar locais alternativos para assistir às partidas.
Comunidades como a mexicana e a centro-americana, com forte presença em cidades-sede do torneio, expressaram preocupação imediata. Líderes locais e consulados entraram em ação, cobrando garantias das autoridades norte-americanas de que torcedores não seriam abordados com base em seu status migratório.
A presidente do México, Claudia Sheinbaum, chegou a se pronunciar, dizendo que esperava “respeito e proteção” aos cidadãos mexicanos que desejavam acompanhar a seleção ou os clubes locais. Ela afirmou que a rede consular do país estaria de prontidão para oferecer assistência jurídica e diplomática em caso de qualquer tipo de detenção.
A FIFA, organizadora do evento, também se viu no meio do impasse. A entidade divulgou nota dizendo que “a segurança dos torcedores é prioridade”, mas que espera que “os princípios de inclusão e hospitalidade do futebol global sejam respeitados”. Ao mesmo tempo, evitou criticar diretamente as ações do governo norte-americano, o que causou mal-estar entre organizações internacionais de direitos humanos.
A situação também acende um sinal de alerta para a Copa do Mundo de 2026, que será realizada nos Estados Unidos, México e Canadá. Especialistas alertam que, se não houver um protocolo claro sobre a não interferência de operações migratórias em eventos esportivos, o risco de esvaziamento dos estádios e desgaste diplomático pode se repetir em escala muito maior.
Enquanto isso, milhares de torcedores seguem em dúvida: assistir ao jogo no estádio e correr risco, ou se afastar da festa do futebol para preservar a própria segurança? Em um Mundial que deveria ser lembrado pelo talento em campo, o medo de ser detido na arquibancada tornou-se um símbolo de como o futebol e a política podem se chocar de forma dramática.