Ex-ministro da Defesa de Bolsonaro pede desculpas por falas contra urnas
O ex-ministro da Defesa do governo Bolsonaro, general Paulo Sérgio Nogueira, prestou depoimento ao Supremo Tribunal Federal e surpreendeu ao adotar um tom de autocrítica ao comentar suas declarações e atitudes durante o período eleitoral de 2022. Em uma mudança significativa de postura, Nogueira pediu desculpas pelas falas e ações que colocaram em dúvida a credibilidade das urnas eletrônicas, reconhecendo que alimentou a desconfiança no sistema eleitoral brasileiro.
Durante seu depoimento, o ex-ministro admitiu que a postura adotada à frente da Defesa em relação às eleições pode ter contribuído para acirrar ânimos e aumentar a tensão no país. Segundo ele, o objetivo da participação das Forças Armadas na Comissão de Transparência Eleitoral do TSE era apenas colaborar tecnicamente, mas reconheceu que suas falas públicas acabaram gerando interpretações políticas equivocadas.
Paulo Sérgio afirmou que jamais teve intenção de desestabilizar o processo democrático ou questionar a integridade do sistema eleitoral, mas que compreende hoje como suas declarações foram usadas politicamente por grupos extremistas. Ele lamentou que sua atuação tenha servido de combustível para o clima de desconfiança que culminou nos ataques às instituições após o resultado das urnas.
Ao pedir desculpas, o general disse que, como figura pública e representante das Forças Armadas, deveria ter sido mais cuidadoso com suas palavras, especialmente num momento de forte polarização. Ele declarou que respeita o processo eleitoral brasileiro e reconhece que as urnas eletrônicas funcionam com eficiência e segurança, como demonstrado pelas sucessivas eleições desde sua implantação.
A mudança de tom de Paulo Sérgio Nogueira se insere em um contexto mais amplo de depoimentos colhidos pelo STF no inquérito que apura a tentativa de golpe e os atos antidemocráticos do 8 de janeiro. A cúpula militar da época tem sido chamada a prestar esclarecimentos, e os relatos têm revelado fissuras internas, além de estratégias de distanciamento do núcleo mais radical do bolsonarismo.
Para investigadores, o pedido de desculpas do ex-ministro tem valor simbólico e pode influenciar na avaliação de sua conduta, mas não necessariamente o isenta de eventuais responsabilidades. Ainda assim, sua manifestação pública de arrependimento marca uma inflexão no discurso que predominava entre aliados mais próximos do ex-presidente, muitos dos quais seguem atacando o sistema eleitoral brasileiro.
O depoimento também reforça a percepção de que setores das Forças Armadas tentam reequilibrar sua imagem institucional, após o desgaste sofrido durante o governo Bolsonaro, especialmente pela aproximação do alto comando militar com discursos políticos e suspeitas de participação em articulações antidemocráticas.
Paulo Sérgio, que assumiu o Ministério da Defesa em março de 2022, ocupava anteriormente o posto de comandante do Exército. Sua condução ao ministério foi vista à época como uma tentativa de reforçar a narrativa de fiscalização das eleições, o que, segundo ele mesmo reconhece agora, acabou sendo interpretado de maneira equivocada, inclusive por setores da sociedade civil e da política.
Com o pedido de desculpas, o general se junta a outras figuras que tentam se reposicionar publicamente após o colapso da narrativa de fraude eleitoral que marcou o bolsonarismo. Resta saber se esse gesto será suficiente para restaurar sua imagem ou se será visto como uma tentativa tardia de se desvincular de responsabilidades em um dos períodos mais tensos da democracia recente.