Kotscho: Moraes foi mais ‘generoso’ com Bolsonaro do que com outros réus
O jornalista Ricardo Kotscho fez uma análise crítica sobre a atuação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), ao tratar dos inquéritos que envolvem o ex-presidente Jair Bolsonaro. Segundo Kotscho, Moraes demonstrou uma postura mais cautelosa — e até “generosa” — com Bolsonaro do que com outros réus acusados de participação nos atos antidemocráticos de 8 de janeiro.
A crítica se baseia na decisão recente do ministro de autorizar o interrogatório de Bolsonaro na investigação sobre a suposta tentativa de golpe de Estado. Para Kotscho, o fato de Moraes ter optado por ouvir o ex-presidente apenas nesta fase, depois de já ter autorizado buscas, apreensões e bloqueios de bens de outros envolvidos, mostra uma distinção de tratamento que não se repetiu com figuras de menor peso político.
Em sua análise, Kotscho ressalta que muitos réus que tiveram participação inferior à do ex-presidente nos eventos investigados foram alvo de medidas muito mais duras e antecipadas, incluindo prisões preventivas, bloqueio de contas e restrições severas de movimentação. Já Bolsonaro, mesmo sendo o principal nome no centro das apurações, passou meses sendo investigado sem ser diretamente confrontado ou obrigado a prestar depoimento.
O jornalista observa que esse tratamento diferenciado pode ter explicações tanto jurídicas quanto políticas. Juridicamente, o STF pode ter entendido que seria necessário reunir provas robustas antes de interrogar um ex-presidente da República, o que exigiria cautela e embasamento técnico mais sólido. Politicamente, porém, essa demora e moderação podem ser vistas como uma forma de evitar uma escalada de tensões com os apoiadores de Bolsonaro, especialmente no momento em que o país busca estabilidade institucional.
Kotscho destaca ainda que o ministro Moraes, ao contrário do que pensam os críticos mais ferrenhos, não agiu com arbitrariedade ou perseguição em relação a Bolsonaro. Para ele, o que se vê é justamente o oposto: um esforço de Moraes para dar a Bolsonaro o máximo de espaço e direitos que o cargo de ex-presidente ainda lhe proporciona, mesmo diante de evidências preocupantes.
A postura de Moraes, nesse contexto, coloca em xeque a narrativa de que há uma caça às bruxas contra Bolsonaro. Segundo Kotscho, se há alguém sendo poupado — até certo ponto — dentro da ampla rede de investigações sobre os ataques à democracia, esse alguém é o próprio ex-presidente. E isso, segundo ele, é um dado político que merece ser observado com atenção.