A estratégia reserva da China para enfrentar a guerra comercial iniciada por Trump
Em um movimento recente, a China voltou a utilizar sua dominante posição no mercado de terras raras como uma das suas principais armas na guerra comercial com os Estados Unidos. Essas substâncias essenciais para diversas tecnologias, como smartphones, carros elétricos e armamentos, têm sido o centro das atenções desde que o governo chinês impôs restrições às exportações desses minerais em abril de 2023.
O controle da China sobre as terras raras
As terras raras são um grupo de 17 elementos químicos, amplamente utilizados em produtos de alta tecnologia. Embora presentes em muitos países, incluindo os Estados Unidos, o processamento desses materiais é complexo e caro. A China, que responde por 61% da produção global de terras raras, domina a etapa de processamento com um impressionante controle de 92%, de acordo com a Agência Internacional de Energia.
A situação tornou-se mais tensa quando, em abril de 2023, Pequim decidiu restringir a exportação de sete tipos desses minerais estratégicos, como uma resposta às tarifas retaliatórias impostas pelos EUA. O movimento afetou diretamente as indústrias americanas, que dependem de ímãs de terras raras para produtos como smartphones, veículos elétricos e até mesmo armamentos militares de alto custo, como os caças furtivos F-35.
Impacto imediato nos negócios globais
Com a imposição dessas restrições, empresas americanas e europeias começaram a enfrentar grandes dificuldades logísticas. O fundador da JOC, uma consultoria especializada em ímãs de terras raras, John Ormerod, relatou que as remessas de ímãs para pelo menos cinco empresas internacionais foram interrompidas, criando confusão e a necessidade de esclarecimentos sobre as novas exigências de licenciamento.
Joshua Ballard, CEO da USA Rare Earth, destacou que as terras raras “pesadas” — mais difíceis de processar e mais valiosas — são 98% controladas pela China, colocando as indústrias dos EUA em uma posição vulnerável.
A história do domínio chinês
A ascensão da China como líder mundial na extração e processamento de terras raras é um reflexo de sua estratégia de longo prazo, que remonta às décadas de 1970 e 1980. Durante esse período, o país soube combinar tecnologia estrangeira com mão de obra barata, gradualmente conquistando o controle da cadeia global de suprimentos.
Deng Xiaoping, ex-líder chinês, reconheceu a importância estratégica das terras raras em 1992, ao afirmar que, enquanto o Oriente Médio possui petróleo, a China tem terras raras. Hoje, a China realiza um investimento contínuo em pesquisa, desenvolvimento e automação, consolidando seu domínio em uma indústria altamente intensiva em capital.
A corrida por alternativas nos EUA
Desde a imposição das tarifas de Trump, os Estados Unidos vêm tentando recuperar sua independência no setor de terras raras. Empresas americanas estão acelerando a construção de suas próprias cadeias de suprimentos e procurando materiais de países aliados. No entanto, o desenvolvimento dessa infraestrutura ainda levará anos para ser concluído.
Com o crescente bloqueio chinês, as empresas americanas, como a Phoenix Tailings, estão se esforçando para refinar os minerais localmente, usando tecnologia sustentável e trabalhando com fontes em países como o Canadá e a Austrália. Além disso, o Departamento de Defesa dos EUA tem investido pesadamente, com mais de US$ 439 milhões destinados ao desenvolvimento de uma cadeia de suprimentos doméstica de terras raras.
O impacto estratégico para os Estados Unidos
A competição por terras raras não é apenas uma questão econômica, mas também estratégica. Os minerais são fundamentais para a defesa e para manter a competitividade tecnológica no futuro. A USA Rare Earth, que está construindo uma fábrica de ímãs no Texas, visa produzir 5.000 toneladas de ímãs por ano. Embora os EUA possuam recursos naturais abundantes, a extração e o processamento desses materiais continuam sendo desafios significativos.
Conclusão
A crescente dependência dos Estados Unidos das terras raras chinesas, somada às restrições impostas por Pequim, coloca os EUA em uma posição desconfortável, forçando o país a acelerar os esforços para garantir uma cadeia de suprimentos doméstica robusta. Embora os investimentos em alternativas estejam em andamento, o controle chinês sobre essa indústria estratégica continua a ser um dos principais pontos de tensão na guerra comercial em curso. A luta por recursos essenciais como as terras raras poderá moldar o futuro das relações comerciais entre as duas potências.