Politica

Diretor do BC afirma que estava certo de que o ciclo de aperto não tinha terminado

Em entrevista nesta segunda-feira (31), Nilton David, diretor de Política Monetária do Banco Central (BC), reafirmou que a autarquia ainda acredita que o ciclo de aperto monetário não chegou ao fim, apesar de as futuras elevações nos juros serem menores do que as recentes. Durante evento promovido pelo Itaú BBA, David detalhou como a sinalização do BC busca garantir uma transição mais suave, evitando volatilidades no mercado.

Confirmação do Ciclo de Aperto Monetário

David esclareceu que, na reunião de março, o BC teve “alta convicção” de que o ciclo de aperto monetário ainda não estava concluído. No entanto, a tendência é que os próximos aumentos sejam mais graduais do que os realizados nos meses anteriores. “Para nós, foi mais interessante dar essa sinalização para ter essa saída do ‘forward guidance’ mais suavizada, minimizando volatilidades possíveis de interpretação”, explicou o diretor.

Apesar de ter mencionado “passos menores” nos próximos movimentos, o BC não especificou com clareza os detalhes das próximas ações monetárias, deixando em aberto o futuro da política de juros após a reunião de maio. A autoridade monetária já anunciou uma elevação da taxa Selic para 14,25% ao ano e indicou que os aumentos seriam menores a partir de então.

O Uso do “Forward Guidance” e Seus Efeitos no Mercado

O uso do “forward guidance” — a prática de orientar o mercado sobre as futuras direções da política monetária — foi abordado por David como uma ferramenta estratégica, mas que exige grande convicção por parte do BC. Segundo ele, a decisão de ajustar a expectativa de três aumentos consecutivos de 1 ponto percentual na Selic, anunciada em dezembro, causou certa inquietação no mercado. O objetivo do BC, portanto, foi reduzir as incertezas ao suavizar essa sinalização, gerando menos volatilidade e maior previsibilidade.

O Impacto da Política de Juros e do Crédito no Brasil

David ressaltou que o Banco Central ajustará sua política de juros com base nas expectativas do mercado e na dinâmica inflacionária atual, que deve continuar pressionada pelos próximos três a cinco meses. Ele também observou que o crédito incentivado no Brasil, que oferece juros mais baixos para algumas empresas, gera uma distorção nos efeitos da política monetária. Para garantir que todos os agentes econômicos estejam no nível restritivo necessário, o BC tem que colocar a taxa de juros um pouco mais alta, reconhecendo as diferenças no impacto da política.

Reservas Internacionais e Intervenção no Câmbio

No que se refere ao câmbio, David garantiu que as reservas internacionais do Brasil estão em “níveis confortáveis” e que não há necessidade de aumentar essas reservas no momento. A intervenção do BC no mercado de câmbio ocorre apenas quando há “disfuncionalidade” identificada, seja no mercado à vista ou em derivativos. O diretor enfatizou que a atuação da autarquia visa ser “cirúrgica” e resolver questões específicas no mercado.

Expectativas de Inflação e o Câmbio

Sobre as expectativas de inflação, David observou que elas aumentaram no primeiro trimestre deste ano, apesar da valorização do câmbio. Esse aumento pode ser reflexo das expectativas do mercado em relação à política fiscal, que pode impactar as expectativas de inflação. O diretor também lembrou que não há uma relação direta entre a taxa de câmbio e a política monetária, e que o BC observa mais atentamente as tendências do câmbio do que respostas a ruídos do mercado.

Estudo Sobre o Novo Crédito Consignado

David também mencionou o estudo em andamento sobre os efeitos do novo programa de estímulo ao crédito consignado para trabalhadores privados. O BC ainda está avaliando os impactos dessa medida, que pode, por um lado, ajudar a reduzir o endividamento da população ao permitir a troca de dívidas caras por mais baratas. No entanto, há o risco de que o novo crédito leve a uma ampliação do endividamento, resultando em maior comprometimento da renda das famílias.

“Nos nossos estudos, ainda não temos uma conclusão com toda a convicção”, afirmou o diretor, destacando a complexidade da análise.

Conclusão

A postura do Banco Central, conforme exposta por Nilton David, indica um esforço para manter a política monetária restritiva, mas com um enfoque mais gradual e menos volátil. Com a inflação ainda pressionando as expectativas do mercado e a economia enfrentando desafios relacionados ao crédito e à dinâmica do câmbio, o BC seguirá ajustando sua atuação com cautela. O uso da ferramenta de “forward guidance” e a adaptação frente às mudanças no cenário fiscal serão cruciais para o sucesso da política monetária nos próximos meses, enquanto a autarquia se mantém vigilante quanto aos impactos do novo crédito consignado.

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