Brasil considera reduzir a tarifa sobre o etanol em conversas com Trump
O governo brasileiro, liderado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, está avaliando a possibilidade de reduzir a tarifa de importação do etanol como parte de uma negociação com os Estados Unidos. A medida, que poderia facilitar a entrada do etanol americano no Brasil, surge em resposta a pressões do ex-presidente Donald Trump, que havia prometido adotar tarifas recíprocas sobre produtos importados. A tarifa brasileira sobre o etanol atualmente está fixada em 18%, e os Estados Unidos já haviam manifestado insatisfação com essa alíquota durante a gestão Trump.
Objetivos duplos: Negociações Comerciais e Impacto no Mercado
A redução das tarifas de importação do etanol poderia beneficiar o Brasil de duas maneiras principais. Primeiramente, permitiria ao governo brasileiro usar a diminuição da tarifa como uma ferramenta de negociação nas conversas com os Estados Unidos, buscando concessões comerciais em outras áreas. Em segundo lugar, a entrada de etanol americano poderia pressionar os preços do biocombustível no mercado interno, incluindo o impacto sobre a gasolina, o que seria um alívio para o governo Lula em um momento de elevada inflação e insatisfação popular.
Desafios Políticos e Econômicos: A Sensibilidade do Setor Sucroalcooleiro
No entanto, a redução da tarifa não é uma medida simples. A decisão de abrir o mercado para o etanol de milho americano pode causar desconforto entre os usineiros brasileiros, especialmente no Nordeste, onde a produção de etanol é mais cara. Embora o governo argumente que o setor nordestino está mais preparado para competir, a medida poderia gerar resistência política, especialmente com um setor sucroalcooleiro tradicionalmente mais crítico ao governo Lula e ao PT.
Histórico de Mudanças nas Tarifas de Etanol
Nos últimos anos, o Brasil já ajustou a tarifa de importação do etanol em resposta à dinâmica dos preços dos combustíveis. Durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, o país havia reduzido a tarifa como uma tentativa de conter os preços, mas a alíquota voltou a 18% no início de 2023. Agora, o governo Lula analisa o momento político e econômico, considerando se uma nova redução poderia trazer benefícios estratégicos, especialmente com a introdução de novos projetos no Nordeste voltados para a produção de biocombustíveis a partir de milho e sorgo.
Aumento da Mistura de Etanol: Potencial Demanda e Impactos
Além das discussões sobre tarifas, o Brasil também está avaliando a possibilidade de aumentar a mistura de etanol anidro na gasolina de 27% para 30%. A medida, permitida pela Lei do Combustível do Futuro, pode gerar uma demanda adicional de 1,2 a 1,4 bilhões de litros de etanol por ano. A decisão final sobre o aumento dependerá dos resultados dos testes realizados pelas montadoras, que devem ser concluídos nos próximos meses. Se não houver impactos significativos, a mudança pode ser implementada ainda no primeiro semestre de 2025.
A Necessidade de Concessões: A Prioridade nas Negociações com os EUA
O governo brasileiro está atento às negociações comerciais com os Estados Unidos, que envolvem questões sensíveis, como as tarifas sobre o aço e o alumínio. O vice-presidente Geraldo Alckmin, que também ocupa o cargo de ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, terá um telefonema agendado com o secretário de Comércio dos Estados Unidos, Howard Lutnick, para discutir essas questões. Embora a redução da tarifa do etanol ainda esteja em discussão, ela poderia ser usada como um ponto de barganha para resolver a questão das sobretaxas sobre o aço e o alumínio, que impactam diretamente as exportações brasileiras.
Agronegócio: Oportunidade para Expansão do Mercado de Açúcar e Limões
Dentro do governo brasileiro, diferentes áreas têm perspectivas distintas sobre como lidar com a negociação. Enquanto o Ministério do Desenvolvimento Econômico foca principalmente nas tarifas sobre aço e alumínio, o Ministério da Agricultura vê uma oportunidade de ampliar o acesso do Brasil aos mercados agrícolas dos Estados Unidos. O setor agrícola brasileiro busca maior abertura do mercado americano para o açúcar, que enfrenta cotas restritivas, além da liberação de exportações de limões, cuja entrada foi proibida há mais de 20 anos.
Considerações Finais: Potencial de Negociação e Implicações Eleitorais
A questão das tarifas sobre o etanol tem um componente político significativo, especialmente em um momento em que a relação comercial entre Brasil e Estados Unidos está em jogo. A região produtora de etanol nos Estados Unidos, o “Corn Belt”, tem uma forte base eleitoral de apoio a Donald Trump, o que torna a questão ainda mais sensível. No entanto, ao discutir a redução de tarifas, o Brasil busca não apenas beneficiar sua economia, mas também posicionar-se estrategicamente nas negociações comerciais com os Estados Unidos, levando em conta as demandas políticas e comerciais de ambas as nações.
Conclusão
O governo brasileiro está diante de um complexo cenário de negociações comerciais com os Estados Unidos. A possível redução das tarifas sobre o etanol pode ser uma ferramenta importante para atingir objetivos econômicos e políticos, mas também envolve desafios internos, especialmente com o setor sucroalcooleiro e a resistência política que ela pode gerar. O desfecho dependerá de uma análise cuidadosa das condições de mercado e das concessões que o Brasil poderá obter em outras áreas, como o açúcar e os limões, no contexto de uma relação bilateral mais ampla.