Economia

O dólar diminui globalmente durante o Carnaval, mas a política interna pode limitar essa queda no Brasil

O dólar perdeu valor em relação às principais moedas internacionais no início desta semana, influenciado pela crescente preocupação dos mercados sobre os impactos das tarifas impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, aos principais parceiros comerciais do país. No entanto, apesar da queda global da moeda norte-americana, o cenário no Brasil, afetado por questões políticas internas, pode atenuar o enfraquecimento da divisa em relação ao real.

Queda do Dólar e Efeitos das Tarifas

O DXY, índice que mede o desempenho do dólar ante uma cesta de moedas fortes, sofreu uma queda de cerca de 1,7% entre o final da semana passada e esta terça-feira (4), atingindo a marca de 105,6 pontos — o menor valor desde dezembro do ano passado. A desvalorização do dólar reflete o impacto das tarifas aplicadas por Trump, que geram incertezas econômicas e acentuam a pressão sobre os mercados globais.

O Cenário Brasileiro e a Influência da Política

Enquanto os mercados internacionais digerem os efeitos dessas tarifas, o Brasil segue em um cenário peculiar, com indicadores financeiros fechados devido ao feriado de Carnaval. As operações financeiras no país retornam apenas no início da tarde desta quarta-feira (5). Apesar do mau humor global, especialistas indicam que as particularidades políticas do Brasil podem impedir uma queda mais acentuada do dólar frente ao real.

Alexandre Espírito Santo, economista e coordenador do curso de Economia e Finanças da ESPM, aponta que a política interna tem um papel significativo nesse processo. Segundo ele, “o dólar aqui dentro é, sim, influenciado pelo dólar no mercado internacional. Mas a gente tem nossos próprios problemas”. O economista observa que a recente nomeação de Gleisi Hoffmann para a Secretaria de Relações Institucionais (SRI), feita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pode afetar a confiança no câmbio brasileiro.

Espírito Santo também menciona os impactos negativos de medidas econômicas adotadas pelo governo, como o programa Pé-de-Meia e a medida provisória (MP) que altera as regras do saque-aniversário do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). Essas ações, segundo o especialista, dificultam os esforços do Banco Central em controlar a inflação e alcançar a meta estabelecida para a economia, especialmente quando o governo enfrenta uma queda na popularidade do presidente Lula.

Impactos das Tarifas no Mercado Global

O aumento das tarifas imposto pelos EUA aos seus parceiros comerciais também afetou os mercados financeiros ao redor do mundo. Na última terça-feira, as bolsas norte-americanas sofreram perdas consideráveis, com o Dow Jones caindo 1,55%, o S&P 500 perdendo 1,22%, e a Nasdaq recuando 0,35%. O Stoxx 600, que reúne as principais empresas da Europa, também registrou uma queda de 2,14%, refletindo o pessimismo global gerado pelas novas tarifas de 25% sobre importações do México e Canadá, além de 10% adicionais sobre produtos chineses.

O EWZ, principal ETF (fundo de índice) que representa o Ibovespa em Wall Street, também fechou no vermelho, com uma perda de 0,95%, chegando a cair até 2% durante a sessão.

Previsões para o Mercado de Ações

O impacto das tarifas sobre as economias globais deve pressionar ainda mais as bolsas de valores, conforme observa Celson Plácido, partner e CEO da AMW – Asset Management by Warren. Ele destaca que as taxas de juros mais altas, lucros empresariais menores, aumento da despesa financeira e inflação são fatores que deverão continuar a pressionar os mercados. Isso reflete a escalada das guerras comerciais, com efeitos prolongados para a renda da população e o crescimento das economias.

Conclusão

O dólar está em queda global, refletindo os impactos das tarifas comerciais dos EUA e a incerteza econômica mundial. No entanto, o Brasil pode não seguir a mesma tendência devido ao cenário político interno, que influencia diretamente o câmbio. O comportamento da moeda norte-americana no Brasil será, portanto, moldado por uma combinação de fatores externos e internos, principalmente políticos. Enquanto os mercados globais seguem monitorando a escalada das tarifas e seus efeitos, a política interna no Brasil continuará sendo um fator crucial para o comportamento do dólar frente ao real nos próximos dias.

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