Analistas afirmam que alívio na inflação é temporário e que os alimentos continuarão a exercer pressão
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de janeiro registrou um alívio inesperado, mas analistas apontam que a tendência não deve se manter ao longo de 2025. A expectativa é que, nos próximos meses, o índice volte a subir, principalmente devido ao aumento contínuo dos preços dos alimentos, que continuam sendo um dos maiores vilões da inflação.
Desaceleração em Janeiro: Uma Breve Trégua
O IPCA de janeiro desacelerou para 0,16%, a menor taxa para o mês desde o início do Plano Real, em 1994. Esse recuo foi impulsionado por fatores pontuais, como o bônus de Itaipu, e refletiu um mês atípico no calendário econômico. No entanto, economistas alertam que a inflação dos alimentos ainda permanece pressionada, e as causas estruturais da alta de preços não desapareceram.
Segundo Juliana Inhasz, economista do Insper, “alimentos devem continuar subindo. São vários produtos que registraram alta de preços e boa parte disso está relacionada ao efeito do dólar”. Ela destaca que o IPCA de janeiro representa uma “alegria que dura pouco”, uma desaceleração temporária dentro de um quadro inflacionário mais amplo e persistente.
Os Alimentos Sob Pressão: O Impacto do Câmbio e da Demanda
O aumento contínuo dos preços dos alimentos tem raízes profundas, ligadas, principalmente, ao impacto do câmbio e aos efeitos nas cadeias produtivas. A desvalorização do real frente ao dólar torna mais caro o custo das matérias-primas utilizadas pelos produtores, que repassam o aumento aos consumidores. Além disso, com o câmbio mais alto, os exportadores brasileiros encontram maior vantagem em enviar seus produtos para o exterior, o que reduz a oferta interna e aumenta os preços no mercado doméstico.
Ademais, a demanda aquecida, impulsionada pelo aumento do poder de compra e o baixo desemprego, faz com que o cenário seja ainda mais desafiador. O economista André Braz, do FGV IBRE, aponta que “a pressão sobre alimentos vem desde o ano passado, quando tivemos uma ‘tempestade perfeita’ com eventos climáticos extremos e a alta demanda da economia”.
Projeções para o Futuro: Inflação Ainda Sob Atenção
As projeções para o IPCA de 2025 indicam que o alívio pontual de janeiro deve ser seguido por um aumento gradual da inflação. O mercado elevou suas estimativas para o índice, prevendo um crescimento de 5,58% para este ano. A pressão sobre os alimentos deve continuar, especialmente por conta do efeito do dólar e da volatilidade nos preços das commodities. Além disso, a expectativa é de que os preços da energia subam novamente em fevereiro, após o efeito do bônus de Itaipu, que foi um fator isolado em janeiro.
Braz também observa que a recente valorização do real tem ajudado a atenuar um pouco a pressão inflacionária, mas ainda não é suficiente para gerar alívio imediato para os consumidores. “O governo precisa controlar o gasto público, pois quanto mais gasto, mais aquecida fica a economia e mais pressionados os preços ficam”, conclui o economista.
Conclusão
O início de 2025 trouxe um alívio temporário para a inflação, mas as pressões inflacionárias, especialmente em relação aos alimentos, continuam sendo uma preocupação central. A alta do dólar, o efeito das commodities e o aumento da demanda interna são fatores que devem manter a inflação em níveis elevados nos próximos meses. Portanto, embora o primeiro trimestre tenha trazido boas notícias, o cenário inflacionário exige atenção contínua, e medidas estratégicas de política fiscal e monetária serão fundamentais para controlar os preços ao longo do ano.