Argentina confirma assinatura da declaração final do G20, mas ‘se desvinculará’ de pautas defendidas por Lula
Durante a cúpula do G20, que está sendo realizada em Nova Delhi, na Índia, a Argentina anunciou que, embora assine a declaração final do evento, não endossará algumas das pautas propostas pelo presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva. A declaração foi feita por representantes do governo argentino, que esclareceram que o país “se desvinculará” de determinados pontos da declaração que são alinhados mais estreitamente com as prioridades políticas e econômicas do Brasil.
Desacordo sobre Pautas Econômicas e Ambientais
A divergência entre os dois países surgiu em torno de pautas econômicas e ambientais que foram um dos principais focos da cúpula do G20. O governo de Lula tem defendido com firmeza uma maior cooperação internacional no combate às mudanças climáticas, além de uma maior regulação dos mercados financeiros e um aprofundamento das políticas de redistribuição de renda entre as nações mais ricas e as mais pobres.
No entanto, a Argentina, que enfrenta uma grave crise econômica, com uma inflação que ultrapassa os 100% ao ano e um alto índice de pobreza, expressou preocupações sobre a viabilidade de algumas dessas propostas para a sua própria economia. Em especial, o governo argentino tem manifestado resistência a algumas políticas ambientais mais restritivas, que poderiam impactar negativamente setores chave da sua economia, como a agricultura e a indústria energética.
Além disso, o governo argentino tem se mostrado cauteloso em relação às reformas financeiras globais sugeridas por Lula, como um imposto global sobre grandes fortunas e um novo mecanismo de redistribuição de recursos para países em desenvolvimento. Para a Argentina, o foco deveria estar em soluções imediatas para sua crise econômica, em vez de compromissos de longo prazo que poderiam agravar ainda mais sua situação financeira.
A Relação Bilateral e os Desafios de Alinhamento Político
O presidente argentino, Javier Milei, que assumiu o cargo em dezembro de 2023 com uma plataforma liberal e de mercado livre, tem procurado adotar uma postura pragmática no cenário internacional. Apesar da boa relação política com o Brasil, que tem sido um aliado tradicional no Mercosul, a Argentina tem sido cuidadosa para não se alinhar totalmente às posições de Lula, especialmente em questões que envolvem mudanças econômicas estruturais.
Milei, que é crítico de políticas econômicas keynesianas e intervencionistas, como as defendidas por Lula, já havia sinalizado anteriormente que, embora desejasse manter boas relações com o Brasil, não concordava com algumas das propostas mais radicais que envolvem a reforma do sistema financeiro internacional e medidas de austeridade social que o governo brasileiro busca implementar no contexto do G20.
A Relevância do G20 para a Argentina
Apesar das diferenças, o governo argentino tem reconhecido a importância estratégica do G20 para sua política externa. A participação no grupo das 20 maiores economias do mundo permite à Argentina influenciar a agenda internacional e buscar apoio para suas necessidades econômicas imediatas, como a recuperação da dívida externa e acordo com o FMI.
O G20 tem se mostrado um fórum crucial para as negociações sobre reformas comerciais, ajustes fiscais globais e cooperativas financeiras, áreas em que a Argentina tem interesses diretos. A cúpula também oferece uma plataforma para que países emergentes, como a Argentina, possam reivindicar maior influência nas decisões globais, especialmente quando se trata de questões de desigualdade econômica e desenvolvimento sustentável.
Respostas da Delegação Brasileira
O governo brasileiro, por sua vez, não comentou diretamente a decisão da Argentina de se desvincular de certas pautas, mas membros da delegação brasileira reafirmaram a importância de uma posição unificada entre os países do Mercosul. A coerência nas políticas ambientais e econômicas é vista como essencial para o fortalecimento da região e sua capacidade de influenciar as grandes potências globais.
Porém, fontes próximas ao governo de Lula indicam que a divergência nas pautas com a Argentina não comprometerá a relação bilateral, uma vez que ambos os países compartilham o interesse em avançar com questões comerciais regionais e fortalecer a integração no Mercosul. Em relação às questões ambientais, o Brasil deverá seguir pressionando por um compromisso global mais forte no combate ao desmatamento e à preservação da Amazônia, um tema sensível para a política interna de ambos os países.
Desafios para o Futuro das Relações Brasil-Argentina
A decisão da Argentina de não endossar algumas das propostas do Brasil na cúpula do G20 reflete a complexidade das relações internacionais entre os dois países, especialmente no atual cenário econômico. Embora Lula e Milei compartilhem uma aliança estratégica no plano regional, as diferenças de abordagem econômica e social representam um desafio para o futuro da cooperação bilateral.
Para os próximos meses, o foco deverá ser em como os dois países irão navegar essas diferenças enquanto tentam promover uma agenda comum no Mercosul e outras instâncias multilaterais. A recuperação econômica da Argentina e a implementação das reformas no Brasil serão fatores decisivos para determinar o grau de alinhamento entre as duas potências sul-americanas.
Conclusão
A atual desconexão de pautas entre Brasil e Argentina no G20 não é um rompimento, mas sim um reflexo das diferenças de interesses e necessidades econômicas que os dois países enfrentam em um cenário global cada vez mais complexo. Embora o governo argentino tenha declarado que se desvinculará de algumas posições de Lula, a assinatura da declaração final do G20 demonstra a disposição de ambos os países de continuar colaborando em áreas onde seus interesses convergem. As discussões que surgirão nas próximas cúpulas internacionais serão decisivas para definir como essas diferenças serão gerenciadas nos próximos anos.