Politica

A dosimetria golpista como mecanismo de reorganização da extrema-direita com Tarcísio de Freitas

A aprovação da proposta de dosimetria para os condenados pelos atos de 8 de janeiro de 2023 reacende no Brasil um movimento de reconfiguração da direita — e abre caminho para que Tarcísio de Freitas emerja como foco de uma aliança ampliada entre conservadores, liberais e bolsonaristas. A medida, que ajusta penas já impostas, pode funcionar como uma “anistia disfarçada”: não revoga sentenças, mas reduz penalidades e facilita progressão de regime, gerando benefícios concretos para os condenados pela trama golpista.

Por que a dosimetria interessa à extrema-direita e a Tarcísio

A estratégia da dosimetria atrai setores radicais porque permite retomar a narrativa de impunidade — sem o estigma direto de uma anistia ampla, mas com efeito prático semelhante. Para esses grupos, é uma chance de minimizar os prejuízos sofridos nas disputas judiciais e retomar protagonismo no jogo político.

Já para Tarcísio, assumir ou se aproximar dessa pauta pode ser um movimento calculado: ele surge como alternativa a lideranças desgastadas, oferecendo uma “via moderada” da direita que acolhe demandas da base bolsonarista sem carregar o peso dos escândalos. Essa posição pode funcionar como catalisador de uma coalizão mais ampla, reunindo diferentes alas do espectro conservador.

A reorganização da direita sob novo formato

Com a dosimetria, a direita política — antes fragmentada pela crise institucional e pela judicialização de lideranças — ganha um instrumento de reconvergência. A proposta permite amenizar divisões internas: pessoas condenadas ganham alguma normalidade legal; parlamentares e partidos reavaliam alianças; e investidores e agentes políticos retomam confiança na estabilidade de representar esses grupos.

Nesse novo formato, o foco se desloca de lideranças pessoais para agendas compartilhadas — valores conservadores, liberalismo econômico, críticas às instituições. Tarcísio ganha destaque por se posicionar como “ponte” entre a ala tradicional da direita, o centro-direita institucional e o núcleo radical desencantado com os resultados da trama de 2023.

Possíveis consequências imediatas e para 2026

Se o movimento prosperar, podemos assistir a uma reestruturação das forças políticas de direita com:

  • Recuperação de parte da base bolsonarista, legitimada sem conotações criminais pesadas.
  • Fortalecimento de candidaturas de “direita moderada”, capazes de atrair conservadores e eleitores de centro-direita que buscam estabilidade institucional.
  • Redução do risco de isolamento político para condenados ou investigados, tornando-os novamente atores relevantes no Congresso, assembleias e eleições.
  • Reconfiguração das alianças eleitorais e parlamentares, com possível hegemonia de uma coalizão de direita unificada, organizada e com sustentabilidade eleitoral para 2026 e além.

Reflexões sobre o impacto social e democrático

Embora a dosimetria não revogue condenações, o efeito prático de reabilitar políticos e permitir que retomem atividade pública representa um desafio para o combate à impunidade e à credibilidade das instituições de Justiça. Há risco de normalização da impunidade e de enfraquecimento da percepção de que crimes graves — especialmente os ligados a atentados contra a ordem democrática — devam gerar consequências permanentes.

A adoção desse mecanismo também pode gerar desconfiança social, polarização renovada e fragilizar o sistema político, especialmente se for vista como medida de conveniência para atores com poder de mobilização e recursos.

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