Cela de Torres na Papudinha supera tamanho da maior parte dos apartamentos lançados em SP
A discussão sobre o tamanho da cela onde Anderson Torres cumpre pena ganhou força nas últimas semanas, especialmente após comparações com os imóveis novos lançados em São Paulo. A cela especial, localizada no espaço conhecido como “Papudinha”, tem surpreendido pelo tamanho acima da média quando comparada às unidades residenciais compactas que dominam o mercado paulista.
A estrutura destinada a Torres possui pouco mais de 54 metros quadrados de área interna, distribuídos entre quarto, sala, cozinha, banheiro e uma pequena lavanderia. Além disso, há uma área externa de aproximadamente 10 metros quadrados, utilizada para banho de sol e circulação. Somando os dois espaços, o ambiente ultrapassa 64 metros quadrados de uso exclusivo.
Enquanto isso, o mercado imobiliário de São Paulo vive uma tendência contínua de redução da metragem dos novos apartamentos. A maior parte dos lançamentos recentes se concentra em unidades entre 25 e 45 metros quadrados, principalmente os studios e apartamentos compactos destinados ao público jovem, investidores ou pessoas que buscam imóveis com menor custo. Esse movimento é impulsionado pelo preço do metro quadrado na capital, pela alta densidade urbana e pela preferência das construtoras por projetos mais enxutos, que permitem maior número de unidades por empreendimento.
Com esses números, a comparação se torna inevitável. A cela onde Torres cumpre pena é maior do que boa parte dos apartamentos novos à venda na cidade, superando facilmente o tamanho típico das unidades compactas que representam a maioria dos lançamentos atuais. Em muitos empreendimentos, apenas uma parcela reduzida das unidades ultrapassa 60 metros quadrados, o que coloca a cela acima do padrão predominante no mercado.
A discussão também reacende o debate sobre desigualdades entre presos comuns e autoridades ou figuras públicas que recebem tratamento diferenciado. Enquanto a maior parte da população carcerária vive em espaços pequenos, superlotados e com infraestrutura limitada, celas especiais como a de Torres oferecem condições bastante superiores ao padrão nacional.
Ao mesmo tempo, o contraste entre a realidade carcerária privilegiada e o mercado imobiliário apertado de São Paulo alimenta críticas e ironias nas redes sociais, onde muitos usuários observam que a cela se assemelha, em tamanho, a um apartamento de classe média — algo cada vez mais raro entre os lançamentos residenciais.
No fim das contas, o que mais chama atenção é o retrato simultâneo de duas desigualdades brasileiras: o sistema penal que trata seus presos de maneira muito distinta e um mercado imobiliário que entrega espaços cada vez menores para boa parte da população. A cela da Papudinha, ao ultrapassar o tamanho de grande parte dos apartamentos lançados em São Paulo, acaba simbolizando essa contradição de forma quase caricatural.

