Exportadores brasileiros guardam esperança com recuo parcial do “tarifaço” dos EUA
Nos últimos dias, o Brasil viveu um momento de alívio, ainda que cauteloso, com o anúncio de Washington de que vai retirar a sobretaxa adicional de 40% imposta a diversos produtos brasileiros. A medida representa um primeiro passo concreto para a reversão de um dos choques mais duros sofridos pelas exportações nacionais em 2025, mas ainda mantém muitos setores na incerteza — especialmente a indústria. Para quem foi diretamente afetado, o otimismo volta aos poucos, na esperança de que o próximo movimento seja a extinção total das barreiras.
O que mudou — e o que continua
A sobretaxa extra, que havia sido aplicada em agosto pelo governo dos Estados Unidos, pegou de surpresa produtores agrícolas, exportadores de frutas, café, carne bovina e diversos outros bens. O chamado “tarifaço” combinava uma tarifa recíproca de 10% com uma sobretaxa adicional de 40%, o que tornava a carga tributária significativamente pesada para quem exporta para os EUA. No auge do tensionamento, estimava-se que cerca de 36% das exportações brasileiras estavam sujeitas a essas tarifas elevadas.
Mais recentemente, os EUA decidiram retirar a sobretaxa de 40% sobre 238 produtos, abrindo caminho para um recuo nas restrições. A lista inclui itens importantes do agronegócio nacional, como café, frutas tropicais, carne bovina, castanha de caju, entre outros. A retirada vale com efeito retroativo desde 13 de novembro, o que permitirá o reembolso das taxas cobradas sobre mercadorias já exportadas.
Com isso, a parcela de exportações que continua sob tarifas extras caiu para cerca de 22%. Em termos práticos, embora o impacto global tenha diminuído, um contingente relevante de produtos ainda enfrenta barreiras tarifárias significativas — sobretudo os que não foram incluídos na lista de isenções.
O alívio chega com ressalvas
Para produtores agrícolas e associações do agronegócio, a remoção da sobretaxa representa um sopro de esperança. O custo de entrar no mercado americano volta a ficar mais competitivo, e a perspectiva de retomar volumes de exportação antes inviabilizados pela carga tributária elevada acende o otimismo.
Contudo, analistas e representantes da indústria alertam: a medida é insuficiente para garantir uma recuperação plena. A manutenção de tarifas — embora menores ou parciais — continua sendo um entrave, especialmente para setores que dependem fortemente dos EUA como destino de exportação. Máquinas, equipamentos, calçados, têxteis e outros bens industrializados, por exemplo, seguem entre os mais penalizados.
Para esses segmentos, a retirada apenas parcial das sobretaxas não elimina por completo o custo extra nem restaura a competitividade de antes. O peso das tarifas, somado a uma concorrência global acirrada, mantém a margem de incerteza elevada.
O que os exportadores esperam agora
Diante do cenário intermediário, o governo brasileiro, associações de exportadores e empresas esperam que o recuo recente seja o primeiro de uma série de passos rumo à normalização completa do comércio com os EUA. Há quem acredite que, com o diálogo diplomático retomado e as tensões diminuídas, a próxima meta será eliminar por completo as tarifas extras — incluindo para os setores industriais.
Nos bastidores, o recuo americano é interpretado como um gesto de boa vontade, possivelmente atrelado a pressões internas dos EUA — como inflação dos alimentos e escassez de alguns produtos — e interesses políticos. Para o Brasil, representa uma oportunidade de reconstruir o acesso a um dos maiores mercados globais, mas também um teste: o quanto as negociações diplomáticas, a articulação comercial e a capacidade de diversificar destinos conseguirão garantir a sustentabilidade do comércio exterior diante de choques futuros.
Por que ainda há cautela
Mesmo com a retirada da sobretaxa para 238 produtos, a regra deixou claro que a decisão não foi universal nem definitiva. Setores mais sensíveis ou estratégicos para a indústria americana continuam sujeitos a tarifas extras, e o Brasil, dessa forma, segue em posição de desvantagem frente a diversos concorrentes internacionais.
Além disso, a mudança tarifária não altera de imediato os danos já causados: contratos perdidos, exportações canceladas ou adiadas, fluxo de caixa comprometido e, em muitos casos, a busca por novos compradores para substituir o mercado dos EUA, o que demanda tempo e esforço.
Por fim — e talvez o mais importante — a reestruturação de uma estratégia de exportação para o Brasil depende de vários fatores: melhora no ambiente econômico global, melhor organização logística, adaptação da produção às demandas internacionais e, especialmente, confiança de importadores estrangeiros. Isso não se reconstrói da noite para o dia.
O sentimento dos envolvidos
Para muitos produtores de café, frutas tropicais e carne, a notícia foi recebida com alegria. Há o reconhecimento de que o fim da sobretaxa pode reverter parte das perdas recentes e recuperar mercados importantes. Alguns relatam já estar recebendo contatos de compradores americanos interessados em renegociar contratos.
Por outro lado, representantes da indústria — especialmente de setores mais complexos — mantêm uma postura prudente. Para eles, a remoção parcial das tarifas é um primeiro passo, mas ainda não o suficiente para restaurar plenamente a competitividade perdida. O risco de novas medidas protecionistas, ou de retomada dos antigos encargos, permanece, o que dificulta planejamentos de longo prazo.
Conclusão: um alívio com metas claras
A retirada da sobretaxa de 40% por parte dos EUA representa um alívio importante e um gesto simbólico de reaproximação comercial entre os dois países. Para o agronegócio brasileiro, é uma chance real de retomar exportações, recuperar mercados e aliviar perdas recentes.
Mas a situação continua delicada. A indústria segue pressionada, e boa parte dos exportadores não se considera fora de risco. O desafio agora é transformar esse alívio momentâneo em um acordo duradouro — com tarifas justas, previsibilidade e a certeza de que o Brasil poderá competir em pé de igualdade no comércio internacional.
Para muitos que foram diretamente atingidos pelo “tarifaço”, a esperança de um fim completo da sobretaxa permanece viva — e, para que se concretize, dependerá da atuação diplomática, da estratégia de comércio exterior e da capacidade de os exportadores se adaptarem rapidamente ao novo cenário.
O recuo é real, mas o caminho ainda é longo.

